"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


terça-feira, 20 de outubro de 2015

DESAMPARO

A SAGA DA MÃE SOLTEIRA

Historinha triste, porém muito comum...

Papai e Mamãe fizeram um Bebê.
Papai e Mamãe ficaram desempregados.
Papai e Mamãe se separam porque não se gostam mais.
Mamãe fica com o Bebê, que ainda é muito pequenino e depende dos seus cuidados.
Papai vai embora e dá notícias quando tem tempo.
Mamãe pergunta quando o Papai vem visitar e ele diz que não quer voltar porque está muito confuso. Mamãe explica que não quer que ele volte, apenas precisa que ele ajude com o Bebê. Precisam ver como vão fazer com as contas da casa que ficaram pra ela resolver, com a Creche/Babá para o Bebê, e como vão levar aquela situação - como ele vai poder ajudar.
Papai diz que não quer voltar pra ela, que ele está muito confuso. 
Papai pede para Mamãe parar de incomodar.
Mamãe se cansa de tentar explicar que não quer ele de volta, apenas quer ajuda com o Bebê que eles fizeram juntos.
Mamãe está sem dinheiro mas acha que o Papai também.
Papai vai viajar.
Papai sai com os amigos.
Papai não manda dinheiro.
As contas começam a vencer e o nome da Mamãe começa a sujar.
Mamãe começa a procurar um emprego.
Mamãe deixa o Bebê com uma Babá porque ele ainda não pode entrar na Creche.
As Conhecidas de Mamãe dizem que ela é louca por deixar o Bebê com alguém que ela mal conhece - mas o Familiares da Mamãe também trabalham.
As Conhecidas não querem cuidar do Bebê, mas dizem que ela é louca.
A Mamãe começa a frequentar entrevistas:
"Ah, você tem filho?" 
"Ah, você é Mãe Solteira?"
"Ah, ele só tem X meses/anos"
"Com quem ele fica?"
"Tem outra pessoa para ir buscá-lo em uma emergência"
"Que horas ele entra/sai da Creche/Babá?"
"Como você vai fazer para levá-lo/buscá-lo?"
"Quem vai ficar com ele nos finais de semana/feriados?"
"Ah, você ainda está amamentando?"
A Mamãe achava que em 2015 não existia mais preconceito. Mamãe começa a perceber que nenhum preconceito existe - até você ser alvo dele.
Finalmente uma chefe que também é Mamãe Solteira, se solidariza e contrata a Mamãe.
O Bebê já está com idade pra ir para Creche mas não tem vaga na pública.
Mamãe consegue dinheiro emprestado para pagar uma Creche particular que deu um descontinho para cuidar do Bebê.
Mamãe começa a trabalhar 8h por dia.
Nos finais de semana o Bebê fica com os Avós para a Mamãe poder trabalhar.
As conhecidas da Mamãe, dizem que ela é uma péssima mãe pois está terceirizando a educação do Bebê.
Quando chega em casa, a Mamãe cuida do Bebê, da casa, das roupas, das contas, da comida.
Mamãe monta a lancheira do Bebê, vai no supermercado, compra remédio - porque agora o Bebê começou a ficar doente por causa do primeiro ano da Creche - ele ainda está construindo sua imunidade.
O Papai aparece de vez em quando, diz que não tem dinheiro, que ainda não arrumou emprego porque está muito difícil pra ele. Mas diz que ama muito o Bebê e que está sofrendo muito com essa situação.
Mamãe acorda a noite inteira. Nunca dorme e quando dorme acorda a cada 40 minutos.
São os dentinhos do Bebê. 
Mamãe mesmo assim trabalha 8h por dia e "terceiriza" a educação do Bebê.
Mesmo assim tem que pegar dinheiro emprestado. Mamãe chega a pensar em se prostituir, para dar conta de tudo.
Mamãe não pode se prostituir porque se não ela perde a guarda do Bebê.
A Mamãe começa a faltar do trabalho primeiro porque o Bebê pegou conjuntivite e depois porque pegou todas as viroses disponíveis no mercado.
Os Familiares da Mamãe trabalham então ela falta do trabalho para cuidar do Bebê.
Mamãe sempre entrega todos os atestados, mas mesmo assim a Mamãe é mandada embora do trabalho.
Mamãe liga pra pedir dinheiro pro Papai e ele diz que não tem e que não adianta ela insistir que ele não quer voltar.
Mamãe diz que não quer que ele volte e explica que nesse momento ele precisa muito arrumar um emprego porque ela está na função do Bebê e por isso tem sido difícil manter o emprego.
Papai diz que não quer voltar.
Mamãe desiste - é muito cansativo ter que ficar explicando, pedindo, implorando pra que ele cumpra as obrigações dele com o Bebê.
Mamãe já tem as dela para cumprir e as dele - já que ele não as cumpre.
Mas Papai sempre visita.
Pega o Bebê limpinho, saudável, alimentado.
Pega a bolsa do Bebê com as fraldinhas dele, a mamadeira com o leitinho, roupinhas para troca e alguns brinquedinhos.
Leva a lancheirinha cheia e devolve vazia. A roupa limpa e devolve suja.
O Papai posta fotinhos da visita no Facebook e os conhecidos e familiares dele comentam "Que Paizão!!!".
O Papai não sabe nem a série que o Bebê está.
As Conhecidas da Mamãe acham que ela é vagabunda, que não trabalha porque ela se apoia na pensão que o Papai manda.
A família do Papai também acha que ela compra bolsas Chanel com aqueles 30% de salário mínimo que o Papai manda todo mês.
A pensão que o Papai manda é pouquinha porque a Justiça entende que ele está desempregado e não tem dinheiro para pagar os custos do Bebê.
A Mamãe também não pode arcar com os custos do Bebê, mas também não pode deixar um Bebê passar necessidade. Além do que, isso é crime.
Os Conhecidos da Mamãe dizem que ela devia ter pensado nisso antes de abrir as pernas.
A Mamãe come miojo, arroz puro, batata - não faz nunca mistura - pra sobrar mais dinheiro pro leitinho do Bebê.
O Papai assiste a TV e continua mandando currículos pela internet - está muito difícil conseguir um emprego.
Os Familiares do Papai dizem no Facebook que estão todos sofrendo muito porque a Mamãe não deixa eles verem o Bebê.
Eles nunca falaram com a Mamãe.
O Papai também diz que não vê mais o Bebê porque a Mamãe não deixa, mas de vez em quando falta das visitas e a Mamãe fica brava porque ele não avisou - ela e o Bebê ficaram esperando, conforme manda a Justiça.
Quando ela liga reclamando, o Papai diz pra namorada nova dele, que a Mamãe tem muito ciúmes e que não aceita o fato dele ter seguido com a vida dele e ela não.
A Mamãe sente pena das futuras namoradas dele. 
A Mamãe reclama do Papai pra Conhecidos porque está sobrecarregada, mas eles dizem que a culpa é dela, porque ela não escolheu alguém melhor para engravidar.
Mamãe tomava anticoncepcional quando engravidou. Os Conhecidos dizem que ela tomava errado porque anticoncepcionais nunca falham.
A Família do Papai acha que ela engravidou de propósito.
Mamãe não tem muitos amigos porque a maioria das mamães que conhece são casadas e preferem sair com outras mamães casadas.
Também não costuma sair porque não tem com quem deixar o Bebê. Quando tem, os Conhecidos dizem que ela é uma vadia que só pensa em correr atrás de homem ao invés de cuidar do Bebê.
Os Homens acham que a Mamãe está em busca de um novo Papai para o Bebê e sempre se afastam.
A Mamãe acha que um único Papai já é trabalho o suficiente na vida dela.
Um Amigo da Mamãe disse que prefere Mães Solteiras porque elas são alvos fáceis, estão sempre carentes.
Mamãe descobre que o Papai está ganhando dinheiro e pede para ele aumentar a Pensão.
Ele diz que não quer voltar.
Os Conhecidos chamam ela de aproveitadora.
O Papai se acha um grande pai porque assina a mini pensão e visita sempre que pode. Reclama quando a Mamãe pede alguma coisa - ele acha que já está fazendo demais.
Mal sabe o Papai que ele não cumpre com as suas obrigações.
Mas a Mamãe desencana porque já está calejada. 
Decide que vai mesmo assumir tudo sozinha daqui pra frente - trabalha, cuida do Bebê, da casa e não sai.
Depois de apanhar muito, de chorar por horas intermináveis sozinha no banheiro, Mamãe pegou o jeito da maternidade solo.
Papai diz que ela finalmente parou de correr atrás dele - até porque, ele não quer voltar.

*Essa é uma história fictícia, baseada nos inúmeros relatos de Mães Solteiras portanto, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

[Texto via Mãe no Divã]

domingo, 18 de outubro de 2015

O RESGATE DO MISTÉRIO FEMININO


A dimensão poética do feminino, que dá sentido à vida, não é exclusividade da mulher: ela faz parte da evolução de todo o ser humano.

O que falta ao nosso mundo é a conexão anímica. A afirmação, de Carl Gustav Jung, poderia ser complementada por outra, de Roger Garaudy: “Viver, antes de mais nada, é participar do fluxo e da pulsação orgânica do mundo”.

A conexão anímica citada por Jung e a qualidade de vida proposta por Garaudy estão estreitamente vinculadas ao que chamamos de feminino no ser humano: um potencial interno a ser trabalhado tanto no homem como na mulher, feito de valores hoje considerados supérfluos, superficiais, pouco úteis para a luta pela sobrevivência básica e por isso relegados a um segundo plano.
Entre esses valores estão a estética, a intuição, a poesia, o raciocínio e o pensamento não lineares, os sentimentos, a sincronicidade, os sonhos... Abrir-se para o feminino, portanto, é entrar em um mundo de mistério e encantamento — uma vivência poética que dá cor, entusiasmo e significado à vida.
De acordo com Erich Neumann, um dos seguidores de Jung, a civilização ocidental vive uma crise motivada pelo excesso de valorização do masculino, representado pelo arquétipo do Pai, que leva à inflação espiritual do ego.

O reequilíbrio pode ser obtido aproximando-nos do inconsciente, representado pelo feminino, não só através do arquétipo da Grande Mãe, mas de todas as qualidades simbólicas do feminino pertinentes aos vários ciclos evolutivos da consciência.
Outro grande perigo da atualidade citado por Neumann é a desvalorização das forças transpessoais. Tudo o que não pode ser compreendido e analisado pelo ego não é encarado com respeito, mas simplesmente reduzido, como algo sem importância ou ilusório. Anulado, reprimido ou ignorado, o mistério perde sua força. Assim, o universo perde seu caráter assustador, mas, sem o mistério sagrado que transcende o ego, a vida torna-se mecânica e sem sentido.
A vivência do feminino não torna menos árdua a luta pelos objetivos e metas propostas pelo mundo atual. Mas pode transformá-la em uma aventura corajosa e criativa, com surpresas agradáveis, mesmo através das dificuldades.
Pela sua própria condição biológica, a mulher está naturalmente mais próxima do feminino. Ao contrário do que se poderia pensar, essa proximidade às vezes dificulta o desenvolvimento desse potencial, porque o coloca muito próximo de um nível de atuação inconsciente. Tanto quanto o homem, a mulher deve se esforçar conscientemente para diferenciar e desenvolver os valores pertencentes ao feminino.

O potencial feminino passa por um desenvolvimento simbólico ao longo da vida. Para estudar melhor as possibilidades que se abrem em cada fase evolutiva, vamos nos reportar ao referencial que propõe o analista junguiano Carlos Byington: fase matriarcal, patriarcal, de alteridade e cósmica.

Fase 1 matriarcal — Aqui, o feminino encontra-se em seu próprio elemento, pois o arquétipo dominante é o da Grande Mãe. Devemos observar, porém, que além das valores conhecidos, pertinentes ao aspecto maternal do símbolo, há outras características do feminino igualmente importantes.

Neste estágio psíquico, a consciência não se encontra ainda completamente destacada do inconsciente; é permeada pelo seu fluxo, tornando-se difusa e periódica. Essa condição favorece muito a inspiração criativa, a intuição, qualidades que emergem de modo misterioso, não influenciáveis pela vontade do ego. Convém lembrar que o inconsciente é que é criativo, não o consciente. Portanto, maior abertura e proximidade do inconsciente favorecem a expressão criativa, em todos os níveis, seja ela artística, científica, ou uma busca de novas atitudes.
Outra qualidade do feminino à disposição de homens e mulheres é a consciência do tempo lunar, que enfatiza a qualidade, e não a quantidade de tempo. Com o desenvolvimento desse potencial, podemos abrir-nos para a apreciação do momento mais favorável à execução de determinadas ações ou objetivos. O tempo solar seria o pólo masculino, o que enfatiza a pontualidade e a exatidão da ordem cronológica temporal.

A compreensão relacionada com o feminino não se dá por um ato do intelecto. É
o coração, e não a cabeça a sede da consciência matriarcal. No entanto, como as percepções estão conectadas com o ego, não podem ser consideradas inconscientes. A compreensão acontece por uma abertura afetiva a um novo conteúdo que, assimilado pela totalidade da pessoa, provoca uma alteração global — e não apenas intelectual — da personalidade.

O feminino, com seu caráter restaurador (pois enfatiza a quietude, a tranquilidade, o mistério), está ligado às qualidades noturnas. A força regeneradora do inconsciente atua em segredo e permite que nos aproximemos dessa dimensão, às vezes assustadora, da escuridão, através da suavidade da feminino. Para desabrochar com segurança, o crescimento, a regeneração, a transformação, precisam das qualidades femininas do silêncio, da paciência, da receptividade.
Outra qualidade importante é a ação pela entrega, pelo “deixar acontecer”, a “ação pela não-ação” dos orientais, o aprendizado do acolhimento, não só na maternidade biológica, mas no carregar e deixar amadurecer uma nova cognição, uma nova atitude.

Para a mulher, o maior perigo nessa fase é justamente atuar o feminino apenas no plano externo, concreto, projetando-o na maternidade biológica. Quando isso acontece, o feminino não se desenvolve no plano interno, simbolicamente, e então ocorre urna grande perda para a personalidade, em termos existenciais.

Para o homem, o feminino será realizado, necessariamente, como evento psíquico e não físico. E ele também tem que se defrontar com um perigo intenso: a permanente desvalorização do feminino. Como a consciência deve se desligar do inconsciente e seguir para a fase patriarcal, tudo o que estiver ligado à fase matriarcal deverá ser momentaneamente desvalorizado para permitir o desligamento e a passagem à fase seguinte. No entanto, muitos homens (e mulheres também) permanecem fixados na desvalorização do feminino, encarando suas qualidades como algo negativo, a ser superado em definitivo, e não conseguem recuperar, em si mesmos, a força simbólica desse potencial.
Na fase matriarcal, o feminino desabrocha em sua plenitude para homens e mulheres e permanece durante toda a vida como fonte revitalizante de imensas possibilidades criativas e sensíveis, onde podemos nos nutrir para ampliar e enriquecer nossa essência humana.
Fase patriarcal — Nesta fase, a consciência destaca-se por completo do inconsciente para formar um ego forte, que dirige a libido de acordo com sua vontade rumo à organização e à discriminação. O arquétipo da Grande Mãe é substituído pelo arquétipo do Pai, a lua dá lugar ao sol e as novas conquistas são simbolizadas pelas façanhas do herói. O princípio masculino aqui está “em casa“, como estava o feminino na fase anterior. Com a modificação da consciência, o feminino também sofre transformações que ampliam o seu significado. O que não quer dizer, como frequentemente se supõe, que o feminino se transforme em masculino.

As qualidades do feminino (suavidade, intuição, aceitação, tempo lunar qualitativo) fortalecem-se nesta fase e tomam forma mais definida pelo seu exercício consciente e ativo, tanto no círculo familiar, mais íntimo, como no espaço mais amplo das várias relações afetivas e sociais. Conquistando novos espaços, essas qualidades serão fortalecidas e diferenciadas através da consciência patriarcal, que possibilita a formação de canais individuais mais assertivos de expressão.
À mulher, essa atuação consciente e decidida dos valores femininos proporciona uma auto-confiança fundamental na sua própria essência. Para o homem, passada a etapa de afirmação da sua identidade masculina, o encontro com o feminino representa a conquista da própria alma.
Na nossa cultura, a consciência patriarcal foi levada ao extremo. A aceleração do ritmo vital, a excessiva competitividade e agressividade prejudicaram a qualidade de vida em geral. Hoje, as pessoas têm muito mais conforto devido ao enorme avanço científico-tecnológico, mas já não possuem tantas possibilidades internas de desfrutar esse bem-estar, porque o feminino pouco desenvolvido tomou a vida sem significado existencial.

O objetivo de atingir status, estabilidade financeira, acesso aos bens materiais, simboliza, mais que simples conforto, o sucesso do ponto de vista patriarcal. A vivência e o desenvolvimento dos valores ligados ao potencial feminino são desvalorizados, e é necessária grande ousadia para buscá-los na atual sociedade. Os desafios não são poucos. Em primeiro lugar, temos que usar de toda a capacidade discriminativa da consciência patriarcal para delinear de maneira precisa os valores do feminino a serem resgatados, preservados e desenvolvidos. Em segundo lugar, temos que ampliar o exercício desses valores (suavidade, receptividade, compreensão lunar) do círculo familiar, amigos e pessoas próximas para a sociedade em geral, inserindo essa ação em nosso cotidiano. Isso requer a persistência e a tenacidade da consciência patriarcal, usadas a favor do feminino. Por último, temos que expressar o feminino sem que perca sua essência.

Tais tarefas requerem a força do herói, pois tentam recuperar o respeito, a dignidade, a civilidade no contato humano, hoje tão raros. O feminino tem a faculdade de estabelecer vínculos, relações, tanto externos como internos. Com a consciência patriarcal, passamos a nos diferenciar do outro, a ter uma visão do outro. O feminino faz a ponte, a conexão entre eu e outro, trazendo uma qualidade afetiva à relação. Vivida internamente, essa qualidade afetiva estabelece contacto com a vivência poética inerente a cada ser humano e abre as portas para outra visão de mundo que complementa e equilibra a anual — e dominante — consciência patriarcal.


O estabelecimento de uma vivência poética no quotidiano não pode ser deixado ao acaso. Essa vivência deve ser desejada, buscada e trabalhada criativamente. Portanto, o irromper dos valores femininos na fase matriarcal não é o bastante. Sua continuidade depende das qualidades positivas da consciência patriarcal, que favoreçam seu desenvolvimento.

Fase da alteridade — Se na fase anterior o feminino foi delineado e expresso com clareza, podemos ingressar na fase da alteridade. Os arquétipos regentes são a Anima e o Animus e o objetivo é o encontro e a aproximação das polaridades. O feminino amplia-se ao incluir seu oposto, o masculino, e vice-versa. Ambos são vividos como duas totalidades que se encontram e estabelecem o que Jung chamou de relacionamento “quatérnio”.

O feminino poderá expandir-se muito mais, valendo-se de seu poder criativo, para encontrar novas maneiras de expressão da consciência. Essa criatividade é absolutamente necessária à transformação dos valores patriarcais que se baseiam na consciência tradicional e conservadora do coletivo.

A luta pela afirmação do feminino já não é importante nesta fase. Assim, essa energia pode ser dirigida ao diálogo, à escuta, à reflexão que inclua o oposto. As qualidades do masculino serão vivenciadas como complementares e não mais como antagônicas. As projeções podem ser retiradas; o encontro do feminino com o masculino pode ser vivido internamente. Novas possibilidades desabrocham — por exemplo, a percepção de que a suavidade possui grande força intrínseca, de que o pensamento lunar, do coração, possui sua própria lógica, de que a capacidade de entrega é uma escolha ativa e não um mero abandonar-se passivo. Os valores do feminino, enfim, incluem os valores do potencial masculino naturalmente, do mesmo modo que no símbolo do Tao o lado escuro contendo um ponto claro e o lado claro contendo um ponto escuro estão em constante movimento e inter-relação.

Esse diálogo, essa dança entre as polaridades é a grande tarefa a ser cumprida pelo homem e pela mulher: o lado prático e o lado sensível expressando-se ao mesmo tempo, superando a dissociação interna.
Fase cósmica — É difícil falar com precisão desta fase, pois ainda estamos, enquanto humanidade em geral, na transição da fase patriarcal para a fase de alteridade, que apenas começamos a desenvolver. No entanto, ela não é uma completa desconhecida, pois temos a possibilidade de vivenciar momentos integrativos que nos dão um vislumbre bastante eficaz de suas possibilidades existenciais.

Aqui, o arquétipo regente é o self. Depois da integração obtida na fase anterior, o coletivo é a transcendência das polaridades, que nos leva à vivência da totalidade.

As qualidades do feminino que desabrocharam na fase matriarcal, discriminadas na fase patriarcal e complementadas pelo seu oposto e integradas na fase de alteridade, serão agora vivenciadas de modo espontâneo na sua totalidade, desapegadas dos papéis sociais polarizados que ajudaram no seu desenvolvimento. Por exemplo: mãe-pai, filho-filha, marido-esposa. Pois agora o centro da consciência não é mais o ego e sim o self, que é o centro da psique unificada.
Na fase de alteridade, a forma convencional e coletiva de personalidade é descartada para que a individualidade desabroche. Isto feito, abre-se a porta para a vivência do aspecto transpessoal, onde não mais existe a divisão feminino-masculino e se torna possível a vivência real dos seres humanos em sua totalidade. Como consequência, a visão de mundo também é radicalmente transformada.

As qualidades da feminino serão agora vividas em uma esfera superior, porque foram consciencializadas e transformadas ao longo de todo o processo de desenvolvimento. Elas unem-se agora no que podemos considerar uma nova síntese de sabedoria, expressa através de serenidade, lucidez e harmonia. O Self pode expressar-s

e de modo mais feminino ou mais masculino, apenas no que diz respeito à ênfase no modo de expressão, pois o todo está sempre presente indiviso. Como exemplo, podemos lembrar Lao Tsé, que transmitiu sua sabedoria de modo feminino ao usar a linguagem poética em seus escritos.

Assim, o feminino pode se revelar nesta fase como um valor espiritual vivenciado internamente e não mais projetado no mundo. O inconsciente urobórico do início torna-se sagrado, numinoso e, através do longo processo de desenvolvimento, leva-nos ao si-mesmo.

Vera Lúcia Paes de Almeida

Texto publicado na Revista THOT nº 58.

Encontrado em:O FEMININO RESGATADO

A ESPIRITUALIDADE DA DEUSA E EU

A Espiritualidade da Deusa serve ao meu ver, justamente para a individualização da mulher, para que ela mesma possa através dessa conexão profunda com seu ser interior, com a Deusa, com sua sabedoria natural, guiar e determinar sua vida, ter uma noção de auto-imagem.
 Na minha opinião aquilo que buscamos não é se tornar um espirito transcendente nem atender ou ascender a uma dimensão espiritual e sim viver o Espirito diariamente. Faz se isso por meio da devoção e principalmente da introspeção, da auto-observação e dos estímulos a auto-estima. A questão em si é muito mais profunda que isto...
Tem a ver com quem somos e de onde realmente viemos, da Terra, do Cosmos, do Todo, e a Deusa é isso tudo ao mesmo tempo.
É um mergulho profundo no abrangente feminino, e a compreensão que a verdadeira empatia só é conquistada quando realmente nos vemos, pois nos somos o outro e o outro bem ali, também é parte de nós.
 É por isso que uma vez que se começa esse caminho, que se trilha essa senda, na qual enfrentaremos nosso medo, nossa Sombra diversas vezes e uma vez provada de sua água, uma vez bebida de sua fonte, torna se impossível negar ou desprezar essa verdade, que pra mim sempre será o maior de todos os mistérios; Somos parte da Deusa, a Deusa é parte de nós e ter consciência disso é maior dádiva e vitoria que se pode conceber, todos os atos de amor, prazer e devoção e principalmente a  arte são formas de oferenda, que deitamos nos só a Grande Deusa no Todo, mas também e principalmente a Grande Deusa dentro de nós.
 Não é preciso muito, uma vela, um copo com água, talvez incensos e flores (os detalhes são dispensáveis) e uma leitura gratificante já são obstante para começar a caminhada.
Continuar é o que é difícil, é como andar no dorso de uma serpente imensa...Momentos vão e vem e não sabemos se estamos mais subindo ou descendo, se estamos mais próximas da cauda ou da cabeça...Contudo o minimo de comprometimento é necessário; o auto comprometimento, com  a sua cura e a sua descoberta, a calma para aceitar as adversidades e o bom humor...
Um dia olhamos para atrás( pode ser até o dia anterior) e achamos graça de todos os medos,receios e necessidades fúteis que tínhamos em relação a nós mesmas. Temos medo, óbvio, pois essa é jornada da Vida e não temos tantos moldes para nós guiar...Nossas antepassadas a muito se foram e apesar de haver um rico material de pesquisa, nossa busca não pode se basear num livro da lei...Seria até contra producente e me pergunto se de certa forma, essa improvisação não seja exatamente o que a Deusa, deseja e espera de nós.
Olhemos para todos os lados e até mesmo para uma das formas do culto a Deusa:
No momento, mesmo dentro de nossa terra (eu aqui do Brasil) e ainda que com boas intenções, temos um homem que se julga ou posta como representante das Bruxas no Brasil.
Nada contra ele nem contra os homens dentro da bruxaria e embora isso fuja um pouco ao tema da página, que era falar apenas do SAGRADO FEMININO, acho interessante ver como em todas as áreas de protagonismo, a mulher é sempre eclipsada de uma forma ou de outra pelo homem.

A pergunta agora é o porque disso?
 Talvez estejamos vivendo um novo momento aonde seja novamente necessário que as mulheres demonstrem sim, sua visibilidade e sua ação dentro do MOVIMENTO DA DEUSA.
Talvez eu esteja enormemente enganada e seja tudo impressão minha.
Só o tempo dirá.
Curioso e que do nada sinto ter que voltar, que minha volta se faz necessária, principalmente pra mim...Começou c
om as poesias mas agora penso que prosseguirei com as minhas pesquisas e com os textos e fontes aqui publicados.

 De certa forma até tenha algum material a partilhar, mas me sentia desanimada, e vendo tantas mulheres brilhantes, me perguntava se era realmente necessário continuar a participar da divulgação e do registrar do tema, da Deusa e do Sagrado Feminino e devido a minha situação de vida ser bem particular, se realmente tinha algo a acrescentar.
PERCEBO, que volto muito mais por mim mesma, do que por qualquer outro motivo. Escrever e ler me engajar e publicar são formas de me manter conectada a mim mesma e a Deusa em mim, aquilo que acredito, muito mais funcionais do que preces e devoções religiosas, devido ao momento da minha vida que não permite muito tempo para mim (trabalhar e estudar ao mesmo tempo).
Realmente a primeira mudança começa pela mudança de pensamento.
Espero ter algo a partilhar ainda e fazer algo pela Deusa e por mim mesma.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

HOJE ESTOU EM LUXÚRIA


 Hoje estou em luxúria
Mas não a tola luxúria dos homens
Que veem na beleza um produto
Ou um alivio a suas necessidades.

Minha luxúria não é da pela mas da alma


Que queima e eclode em pétala
Liberando o doce perfume ocre
Um coração pulsante de vida

Porque ser bruxa é saber que tudo
Já está lá para você, para o verdadeiro
E mais intimo você
Ela esta lá na dor e no amor

Na chuva, na rosa, na cerejeira
Nas vielas da rua e até nos dutos do esgoto
Ela está lá por debaixo acima e em tudo isso
Não se trata de adora-La ou temeLla
Se trata de devocão
Que é amar como uma forma de oração...
Lúxuria ou seria a mais intensa paixão...


terça-feira, 6 de outubro de 2015

SERÁ QUE UM DIA SEREI POETISA?

Meu coração está mais escuro do que noite
Meu coração sem música canta a mesma melodia sempre
Da mata ferida que se rasga no meu peito
Eu, que tanto esqueço de quem eu realmente Soul.

Eu canto como numa lenda
Sou uma moça presa numa cabaça
iluminada pelo lua e pelo sol
E meu canto, talvez belo, talvez horrível
Me comprime por dentro.

Eu quero romper a concha em que vivo
E cantar pra fora, fluir de dentro
A perguntas não respondidas
Vivo pelas respostas

segunda-feira, 28 de setembro de 2015


OS HOMENS, MALTRATARAM A NATUREZA MÃE 
DA MESMA MANEIRA QUE MALTRATARAM A MULHER...

“Os ciclos da natureza são os ciclos da mulher. A feminidade biológica é uma sequência de retornos circulares, que começa e acaba no mesmo ponto. A centralidade da mulher confere-lhe uma identidade estável. Ela não tem que tornar-se, basta-lhe ser. A sua centralidade é um grande obstáculo para o homem, cuja busca de identidade é bloqueada pela mulher. Ele tem que se transformar num ser independente, isto é, libertar-se da mulher. Se o não fizer acabará simplesmente por cair em direcção a ela. A união com a mãe é o canto da sereia que assombra constantemente a nossa imaginação. Onde existiu inicialmente felicidade agora existe uma luta. As recordações da vida anterior à traumática separação do nascimento podem estar na origem das fantasias arcádicas acerca de uma idade de ouro perdida. A ideia ocidental da história como movimento propulsor em direcção ao futuro, um desígnio progressivo ou providencial que atinge o seu apogeu na revelação de um Segundo Advento, é uma formulação masculina. Não creio que alguma mulher pudesse ter concebido tal ideia, já que a mesma é uma estratégia de evasão em relação à própria natureza cíclica da mulher, na qual o homem teme ser aprisionado. A história evolutiva ou apocalíptica é uma espécie de lista de desejos masculinos que desemboca num final feliz, num fálico cume”*
*Camille Paglia

Rosa Leonor Pedro IN: FACEBOOK

DOCEMENTE...

No meu fogo e no meu anseio eu não danço no seu tempo...
E sim no meu próprio
Na minha força e no rabisco de minhas palavras
Apenas minha voz dissonante poderá ser ouvida
Não como uma honrada exceção
Mas como uma coração-mulher-selvagem vibrando de vida
Como rosa ocre que arde no peito, aberta como ferida
Mas não ferida ainda, apenas um broto
Se espalhando pela relva de minha carne viva
Eu sou vida, inescrutável profunda imanente
Eu sou silêncio queda e abismo
Eu sou o encontro de quando se cai pra baixo

Não para baixo, mas para o centro
O eu de mim...

sábado, 26 de setembro de 2015

CORRIMÃO E ESCADA E ENTÃO ASCENSÃO...PRA BAIXO... NOTA DISSONANTE E ABISMO...

Eu sou uma só
Divida em quatro
Mais por três refletida numa imagem
No altar ante mim
Ela que Tudo Sabe
Nunca me abandona

Embora eu siga solitária nesse mundo...
Sou a copa da árvore
Fanática pela vida
Sou a crença dos pássaros
Sou o mergulhão na mata
Sou a cotovia na cidade
Sou...
Eu sou a essência da solidão
Uma mulher, uma flor branca no cabelo

Noite azul, sem sonhos
Not Dreams,
Uma mulher de vestido negro movimentando-se
Por casas vazias...Que esperam ser habitadas
Eu sou a casa vazia
A hora vazia fiando a roca da vida
Eu sou Vida vibrante na solidão que me enCendeia
Vibro e sei que o amor que me preenche
É maior que eu
Sou Filha da Senhora e sou grata pelo meu destino
Ainda que sofra vivo a vida.
Sempre falo do fogo

Porque grande parte de mim vive mergulhada
Em um intenso frio...
Ser e não ser são apenas codinomes

Para quilo que em mim vive
Ela vive, vive e pulsa em mim
E mais um vez eu sou a noite

Interminavel e sem sonhos
E esse, é maior sonho...

Gaia Lil

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

TEXTO DE UM HOMEM SÁBIO...

Gaia:

Vou partilhar com vocês um texto de um grande amigo...como mulher fico especialmente tocada quando percebo como um homem pode ter uma percepção profunda de si e do mundo a sua volta...



O Resgate do Masculino no Feminino.
- Por Sávio Costa.

Quando se fala em Sagrado Masculino, geralmente, a imagem que vem a cabeça é o resgate do homem perdido. O caçador selvagem, forte, arisco e sagaz, que mata para alimentar sua tribo ou o homem que luta em grandes batalhas para proteger seu povo. Quando se fala em RESGATAR o Sagrado Masculino, se fala não só do resgate do homem protetor, amigo, fiel, espiritual e respeitoso, se fala em ascender e aceitar o que existe de Sagrado em si.


 Assim como o Sagrado Masculino, a busca não é só pelo resgate do antigo homem e sim do Sagrado Feminino.
 Por longo tempo o homem se desrespeitou e se destacou da natureza e das mulheres, provando que sua masculinidade ou, melhor, o seu Sagrado Masculino se encontrava mais fora do que dentro, se encontrava na barba grossa, nos corpo másculo, na virilidade, na espada, no falo e em seu escudo. Sem contar o fato de que a maior fonte de glória masculina se encontrava nas batalhas vencidas e no poder adquirido. E não digo aqui que a somente o homem se destacou como ser ambicioso e mentalmente egoísta, mas muitas mulheres também. E isso só veio a ocorrer com o crescimento de povos patriarcais e gananciosos, onde demonstravam sua ‘’hierarquia’’ com a força e brutalidade contra os mais fracos.
 O fato é que ao meu entender, o homem começou a desprezar o poder do Feminino graças a ideias embutidas pelas sociedades, tanto atuais quanto antigas, a respeito da mulher e suas características sensíveis e, que aos olhos dos homens, demonstraria sempre a fragilidade do ser humano. A fraqueza da humanidade se encontraria, a partir de certo período, na mulher. Será?

 Enquanto o homem via e aceitava o seu Sagrado no corpo, na força, na brutalidade e nas batalhas, eram as mulheres responsáveis pela sabedoria, pela escrita, pela plantação e colheita, pela casa e por gerar a vida. Por mais que em antigas tribos indígenas e pós-indígenas as mulheres se mostravam as caçadoras e pescadoras, isso é visto e refletido nas Amazonas. O Sagrado Feminino não só se encontrava nesses ítens, mas sim também na própria capacidade de ser mulher, sensível e desprovida da brutalidade e força masculina. Sendo assim, a mulher sempre respeitou e, por incrível que pareça, encontrou a força em si mesma, a mulher sempre deixou acesa a Ideia da beleza feminina ser uma manifestação do Sagrado e da capacidade de gerar a vida através dos tempos, mesmo que o homem tivesse parte nesse quesito de criação de uma nova vida. Mas foi sempre a mulher responsável pela divisão sagrada entre essas vidas, pois sempre foi e sempre será a mulher capaz de dividir o mesmo corpo, o mesmo alimento e o afeto na hora de esperar, gerar e parir uma nova vida.

 Com a mudança de séculos, estabilidade do patriarcado e demonstração de hierarquia masculina nas sociedades, as mulheres foram suprimidas e obrigadas a abandonarem o que sempre foi a maior representação de sagrado e da vida... O Feminino.
Sendo assim, o homem começou a demonstrar que ser sensível e não ter gosto nas manifestações viris másculas era sinal de sensibilidade, que era atribuído as mulheres, fazendo do Feminino presente nos homens uma forma de incapacidade de vida social digna de desprezo.
 A maior questão é que o Sagrado Masculino, mesmo com as falhas e erros, continua a ser Sagrado e ainda está presente enquanto o Sagrado Feminino perdido está sendo resgatado por mulheres e homens, homens que observam o Feminino como forma de criação, manifestação interna e pessoal da Deusa e do envolvimento com a natureza. Mas quando se fala do Sagrado Masculino e seu resgate, se fala de resgatar o Feminino perdido em cada homem, resgatar o homem sensível, amável, compreensivo, artista, sábio e respeitoso. E enquanto o homem ver e aceitar o seu Sagrado apenas no Masculino exterior, jamais poderá encontrar o Feminino e o verdadeiro Masculino interior.
 Com a demonstração do resgate do Feminino vemos as mulheres mais atentas as mudanças corporais, ao desenvolvimento do sangue menstrual, ao ato de engravidar e parir, a beleza e o cuidado corporal, sua liberdade, a sua estabilidade financeira, profissional e física, sem tirar o fato de que com esse resgate do Feminino as mulheres se tornam mais propícias a esquecerem e cicatrizarem traumas cometidos em suas vidas pelo falso Masculino e o falho patriarcado.

 Por fim, poderia dizer que a busca e o resgate do Sagrado Masculino nada mais é, ao meu ver, que uma forma de resgatar e respeitar o Sagrado Feminino perdido dentro dos homens, o homem pai, amigo, companheiro, o homem que respeita as decisões do outros, o homem que sabe que cada manifestação na terra é uma manifestação do Divino, o homem que demonstra sua sensibilidade e seu carinho na arte, o homem que se cura de tristezas, decepções e feridas causadas por si mesmo ou pelo patriarcado como um todo.
 Poderia dizer então que o homem que não encontra e nem respeita o Feminino em si mesmo, não pode encontrar e nem respeita o mundo que respira e pulsa vida lá fora! Pois a Deusa se encontra em tudo o que existe, mesmo naquilo que foi perdido.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O SANGUE ANCESTRAL DA MÃE DA MÃE DA MÃE...

ADN MITOCONDRIAL MATERNO E A SUA IMPORTÂNCIA COMO PROVA CIENTÍFICA DA ORIGEM DE UMA SOCIEDADE MATRIARCAL.

Maria De Lourdes de Oliveira Pinto:

*Em tempos, conversava com uma amiga, Rosa Leonor Pedro, sobre a bestialidade do homem e de todo o sistema patriarcal na tentativa de anulação do Princípio Feminino, responsável pela Criação de todo o Universo. Explicava-lhe que havia uma prova científica, que está a ser estudada e que indicia a existência de uma sociedade matriarcal original e que é o ADN mitocondrial, transmitido exclusivamente pela mulher de geração em geração, isto é, trata-se de um gene que é transmitido apenas através da linhagem materna, ao contrário do ADN dos cromossomas, que é herdado do pai e da mãe. Assim, as mitocôndrias são transmitidas unicamente pela mãe e a partir de uma mãe original, desde o início dos tempos, sendo todas nós mulheres suas decendentes. 
Hoje, após uma visita à Feira do Livro no Parque Eduardo VII, um livro chamou a minha atenção. Estou com ele entre mãos, e convosco partilho algo que liga as minhas postagens anteriores e a conversa acima citada:


 "Estudos antropológicos e sociológicos mostram que a maior parte das culturas são patriarcais desde há muito tempo. Uma das razões dadas para a dominação patriarcal seria a sobrevivência da espécie na qual todo o sistema educativo e normativo teria sido organizado para garantir aos homens fortes a sua paternidade.

A descoberta relacionada como ADN mitocondrial poderia ser o início de uma prova científica de um índice da cultura matriarcal que, por razões em parte ainda desconhecidas, teria sido subestituída por uma cultura patriarcal.

(...)

É bastante inquietante imaginar a possibilidade de que gerações de dominação masculina e de consentimento da mulher possam ter deixado vestígios tão profundos e indeléveis sobre o genoma humano.

No entanto, tudo indica que foi assim que as coisas aconteceram.

O fenótipo que age, geração após geração, sobre o património genotípico da população feminina teria conduzido as mulheres a adoptarem um comportamento "conveniente", ao falar ou vestir-se. o objectivo era fazer delas excelentes mães ( reprodutoras ) para ficar assegurada a paternidade do "macho dominante". Os meios empregados para chegar a este fim eram a força e o terror. Um pai ou um marido desrespeitado não hesitaria em usar de violência, repudiar ou matar.

Outro meio, também muito comum, relaciona-se com o facto de as mulheres não terem acesso aos estudos, por conseguinte não teriam acesso ao mercado de trabalho e à sua independência.

O objectivo era o de "produzir" descendentes sempre melhores, sempre mais eficiente e fiéis ao clã, que seriam provenientes de uma paternidade indiscutível, pouco importava o "preço a pagar" pelas mulheres."*

In O FEMININO REENCONTRADO - A Mulher na Jornada Interior

de Nathalie Durel Lima

*Cópia e Texto de Maria De Lourdes de Oliveira Pinto

IN; ROSA MATER (MULHERES E DEUSAS) - ROSA LEONOR PEDRO

Nota tardia:
Quero agradecer profundamente a Rosa pelo carinho e apoio que tem me dado ao longo deste tempo. Obrigada por me enviar este texto de sua amiga por email.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

A DEUSA VIVE NO JARDIM DAS HESPÉRIDES...

UM PROJETO ADMIRÁVEL, DA SACERDOTISA PORTUGUESA LUIZA FRAZÃO
  

 A VISÃO DO JARDIM DAS HESPÉRIDES

 
O Templo da Deusa do Jardim das Hespérides foi criado em fevereiro de 2013, dentro da energia do Imbolc, do acordar da Deusa Menina, tendo sido concebido durante a minha formação como sacerdotisa de Avalon. Com efeito o contacto que vou fazendo com a visão de Kathy Jones, fundadora do Templo da Deusa de Glastonbury/Avalon, e o resultado das minhas pesquisas no território e na tradição nacional sobre o Divino Feminino levaram-me a concluir que uma dimensão mítica existe no nosso território, à semelhança da Ilha de Avalon, igualmente governada por nove entidades ou princípios femininos, que aqui se chamam Hespérides e lá Morgens. Cotejando as duas tradições, a portuguesa e a britânica, verificamos que as semelhanças são tão evidentes que facilmente aceitamos teorias que postulam ter havido há milénios a partilha dum mesmo fundo cultural céltico.

Esta certeza levou-me a conceber uma Roda do Ano da Deusa nossa, dentro da estrutura criada por Kathy Jones em Glastonbury/Avalon, embora adaptada à nossa realidade. Tal Roda encontra-se em fase de elaboração. Ela pretende ser flexível, aberta a que novas entidades entrem e a que porventura outras mudem de lugar, dentro da dança leve, criativa e flexível da Deusa, bem diferente do dogma patriarcal, rígido e estático. O nosso afastamento da Natureza torna entretanto difícil a conexão com a energia das aves da Deusa do nosso território, por exemplo, embora a tradição tenha guardado algum desse conhecimento. O mesmo sucede com os outros animais sagrados, árvores e plantas. No entanto, considero vital para a nossa sobrevivência esta ressacralização da Natureza que a espiritualidade da Deusa desencadeia.





Criar este Templo implica cotejar duas tradições, a nossa e a britânica, que quiçá é herdeira da ibérica ou da do Arco Atlântico, segundo algumas correntes de investigação, mas que soube conservar melhor esses elementos e beneficiou na atualidade da visão e do empenho de mulheres como Marion Zimmer Bradley e Kathy Jones, entre várias outras. No nosso país, também há mulheres e homens que me inspiram, como Dalila Pereira da Costa, Fernanda Frazão e Gabriela Morais, para nomear apenas algumas, embora o seu propósito seja diferente do das nossas irmãs britânicas, mais académico do que devocional. Considero pertinente fazer-se a aproximação das duas culturas, outrora comuns ou muito próximas. O nosso Jardim das Hespérides, uma bolsa remanescente da antiga sociedade matrifocal neolítica que aqui nesta ponta da Europa se manteve até muito tarde, foi uma sociedade pacífica e florescente, e segundo Dalila Pereira da Costa, daqui irradiou para o mundo. Ele está pronto a ser reivindicado e ancorado, adaptado à realidade e consciência atuais, amorosamente substituindo estruturas patriarcais caducas e agonizantes. Trata-se dum sonho que te convido a sonhares comigo, condição de sobrevivência no mundo atual.


Este Templo pretende ser pois fiel à cultura do chamado Arco Atlântico, que é a nossa tradição, porventura herdeira da tradição atlante, nos moldes em que Kathy Jones a trouxe até nós na atualidade, adaptando-se todavia à nossa realidade e mantendo-se aberta às infinitas possibilidades que a Deusa nos irá apresentando. Ao ritmo possível, este Templo vai ganhando forma, e esta energia de transformação e de cura pelo empoderamento do Feminino vai ancorando na nossa realidade. E para isso a tua colaboração é fundamental.

 ©Luiza Frazão

A INSPIRAÇÃO DE AVALON




A DEUSA está viva em Glastonbury, visível para tod@s nós nas formas da Sua paisagem sagrada. Ela é suave como o arredondado dos montes do Seu corpo e doce como as flores das macieiras que crescem nos Seus pomares. Aqui sentimo-nos cada dia envolvidas pelo Seu amor e a Sua voz trazida pelo vento pode ouvir-se em permanência, o Seu sussurro atravessando as brumas de Avalon. Os Seus mistérios são tão profundos como o Caldeirão que  Ela mexe em permanência, conduzindo-nos até às Suas profundezas para depois nos elevar às Suas alturas. Ela é a nossa fonte, a nossa inspiração e o nosso Amor.


A nossa visão consiste em criarmos e mantermos um Templo da Deusa contemporâneo, aberto em permanência, dedicado à Deusa em Glastonbury e à sua contraparte fora desta dimensão, a Ilha de Avalon. O Templo da Deusa é um espaço sagrado aberto a tod@s, especialmente dedicado à descoberta e celebração do Feminino Divino. É um espaço sagrado onde podemos cultuar e honrar a Deusa de formas que podem ser antigas ou atuais e onde todo o tipo de amor por Ela é bem-vindo. No Templo da Deusa de Glastonbury celebramos as Deusas que estão particularmente ligadas a Glastonbury e à Ilha de Avalon. Avalon é uma terra mágica onde a Deusa está presente desde tempos imemoriais. Trata-se dum lugar de mistério e imaginação, um lugar onde podemos deixar ir o que é velho e acolher o novo em nós, novas formas de sermos e de vivermos. A divindade primordial relacionada com Glastonbury é a Senhora de Avalon (que é Morgan la Fey), as Nove Morgens, Brigit ou Bridie da chama sagrada, Modron, Grande Mãe da linhagem de Avallach, Nossa Senhora Maria de Glastonbury (Our Lady Mary), a Anciã de Avalon, a Deusa do Tor, Senhora dos Montes Ocos (Hollow Hills), Senhora do Lago e Senhora das Fontes e Poços Sagrados.”



Com estas palavras apresenta o Templo da Deusa de Glastonbury a sua visão e propósito no seu sítio da Net. São palavras que podemos aplicar aos propósitos do nosso Templo da Deusa do Jardim das Hespérides e de qualquer templo da Deusa que é urgente criarmos neste mundo de onde a Deusa primordial foi banida pela Sua incompatibilidade com propósitos patriarcais, entretanto em vias de nos destruírem enquanto civilização e planeta.

A nossa Avalon é o Jardim das Hespérides, espaço por excelência da Deusa Anciã, da Sábia Calaica-Beira, e de Ana, a Grande Mãe Ancestral, respiração espiritual desta terra. E das nossas Nove Irmãs, as Nove Hespérides que regem este espaço de uma outra dimensão como as Nove Morgens regem a Ilha de Avalon. Vão por certo dizer-me que as Hespérides não são nove, mas na verdade se o seu número varia de fonte para fonte, por que não considerar que também elas compõem aqui  aquele grupo primordial que o investigador Stuart MacHardy descobriu que existe espalhado pelos quatro cantos do mundo, as Nove Donzelas de que nos fala na obra “The Quest for the Nine Maidens”?
Se a Deusa está presente em Avalon desde tempos imemoriais, também aqui Ela se conservou no coração das mulheres, que deram à Virgem Maria e às inúmeras santas - a  forma que Grande Deusa teve de tomar para sobreviver ao Cristianismo - todos os atributos e qualidades das antigas Deusas, nem nos faltando os da Deusa da Sexualidade Sagrada, chamada aqui nada mais nada menos que Nossa Senhora dos Prazeres… Todo o nosso território está imbuído da Sua vibração, uns lugares é certo mais do que outros. Por todo o lado há capelinhas e capelas e igrejas - regra geral edificadas sobre locais outrora considerados sagrados pelo Paganismo - celebrando a Sua glória, a glória do Feminino Divino, e o Seu poder.

Pode parecer com isto que nos estamos a colar demasiado a uma tradição estrangeira, a uma tradição importada, mas a verdade é que, quando estudamos essa tradição, vemos que ela  tem muitas semelhanças com a nossa, dando razão às e aos investigador@s que defendem a Teoria da Continuidade Paleolítica, segundo a qual nós somos tão celtas como el@s, tendo  partilhado em tempos a mesma cultura, a do chamado Arco Atlântico, que compreende Portugal, Galiza, Bretanha francesa, Irlanda e Grã-Bretanha, e até que é possível que daqui ela tenha irradiado para o resto da Europa. Pelo menos… E não são apenas investigador@s nacionais a defender estas ideias...

©Luiza Frazão

Imagens Google

IN: TEMPLO DA DEUSA CALE

domingo, 31 de maio de 2015

A GRANDE CASA DE MINHA MÃE

Meu coração de fogo, sempre inspirando e tecendo força
Mãe Bruxa, Senhora dos campos e das colheitas, Mãe das Cidades
Acende tua luz brilhante, Única nas chamas de minha alma, arde em brasa
Sopre, sopre sobre a minha brasa tal qual soprará sobre minha mortalha
Pois es dona da minha morte e da minha vida

A Senhora é a minha Juno interna, o espírito divino e feminino que me Anima
Anima a chama a ardente do meu fogo, meu Juno, deito mel e leita a Terra
E faço oferendas a Ti o Mãe, porque minha alma nunca estará saciada de tua chama
Tu es mais que o fogo da luz, Tu es a imensidão das águas...
Tu es o oceano vasto que alivia e refresca a calor da alma feminina

Mergulhamos em ti Mãe primordial, filha e fruto da Terra
Rodamos na sua medicina, que é do amor para com tudo
Porque tudo nada mais é do expressão de ti, o mundo é teu corpo
E cada femea é tua profecia e cada ser humano carne de tua carne
Eu bebo de todas as copas na CASA DE MINHA MÃE
Eu como de todas as frutas e me sacio no seu Prazer
Que é meu prazer.

Mesmo na fúrio ou no ódio, medito sabendo que não me importa
O que aconteça sempre estou contigo
Mãe Negra, Rainha da Noite, Tão pesada de mistérios
Vive em mim tua chama ardente, tua tocha que tudo ilumina
Eu sou filha da Casa de minha Mãe
E como Sacerdotisa segura a tocha e a copa de teus santos mistérios.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A MUDANÇA DO TÍTULO

NOTA; FIZ A MUDANÇA DO TÍTULO PARA DEIXAR EXPLÍCITO O FOCO DA PÁGINA E FUGIR A CONFUSÃO QUE SE FAZ ENTRE ESPIRITUALIDADE DA DEUSA E BRUXARIA...AS DUAS SE RELACIONAM MAS NÃO SÃO A MESMA COISA. ASSIM SENDO PRESERVO A BUSCA DA ALTA SACERDOTISA, QUE SERIA A IDÉIA DE UMA MULHER EM PLENA POSSO DOS SEUS DOMÍNIOS ESPIRITUAIS E DOU ENFASE A ESSA BUSCA NUM CONTEXTO DE SAGRADO FEMININO, DE FEMINITUDE PLENA E SADIA E SEM AS DISTORÇÕES POR VEZES PRESENTES NO NEO-PAGANISMO.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

SIMPLESMENTE UMA BRUXA...

CONSCIÊNCIA DA SIMPLICIDADE.


Quando uma (o) Bruxa (o) opta por viver dentro do sistema cósmico, cumprindo e fazendo cumprir as Leis que regem o Universo, isso significa que a “SIMPLICIDADE” já faz parte da sua vida e do seu cotidiano, não só de forma filosófica mas principalmente na prática.
Viver com simplicidade não significa viver com PRIVAÇÕES, muito pelo contrario; significa viver com abundância e prosperidade PARA O BEM DE TODOS, posto que: quanto mais temos mais partilhamos e mais recebemos de volta, é o GRANDE CIRCULO, A LEI DO RETORNO.
Viver com simplicidade significa fazer escolhas, tendo como principio a consciência do que realmente precisamos para viver, essas escolhas têm uma abrangência infinita, devem estar relacionadas à família, ao meio ambiente, a espiritualidade, a comunidade e especificamente ao caminho cósmico, ou seja, a família cósmica.

Começamos sempre pela FAXINA. Uma faxina na própria vida. Jogar fora tudo que não nos serve mais, começando pelos sentimentos e emoções e acabando com todas as tralhas contidas nos nossos espaços físicos que não usamos e vamos entulhando em cantos e armários.
Tomar consciência real do nosso TEMPO, e do Senhor Cronos na nossa vida e buscar estabelecer prioridades.
Procurar de forma sensata e leve colocar ORDEM nas contas e estabelecer metas para os gastos mensais, de forma que possa SE DAR TEMPO PARA DIFERENCIAR O QUE REALMENTE PRECISA E O QUE APENAS QUER.
O “apenas quer” faz parte da instabilidade emocional e está ligada a ansiedade levando conseqüentemente ao consumo desnecessário.
Precisamos compreender que o que consumimos por real necessidade é algo natural ou uma questão de sobrevivência, e o que consumimos por impulso é doentio e precisa ser reavaliado com apoio terapêutico.
Nós Bruxas (o) desde muito tempo, nos esforçamos muito para identificar o que realmente faz parte da nossa energia de TER, e o que é simplesmente uma forma de consumo.
Estamos sempre atentas (o) para as nossas escolhas pessoais, nossos princípios morais e nossas crenças e só então definimos o nosso modo de viver e de TER.
Outro aspecto prioritário na nossa formação é exatamente a tomada de consciência do que é um mero DESEJO e o que é um SONHO.
Os nossos desejos são naturais, mas devem ser verdadeiramente analisados, pois eles são formados a partir de informações culturais externas, geralmente acumuladas por induções publicitárias e modistas de acordo com a civilização em que vivemos. E atualmente somos bombardeadas de todas as formas através da diversidade da mídia, o que nos leva de imediato a necessidade do consumo. Assim os nossos desejos passam direto da informação dos sentidos físicos para o emocional, promovendo a necessidade do consumo.
Os nossos Sonhos já tomam uma outra trajetória. Eles começam geralmente pelo despertar na infância de alguma informação que se projeta no inconsciente, é armazenado e na idade adulta passa a compor o sentido de realização, ou seja passa a ser sonhado com complemento do que se tem ”IDEIA DE FELICIDADE”. Eles também podem ser nocivos, mas são mais fáceis de serem trabalhados e harmonizados. Diferente do desejo que é arrebatador, PAIXÃO. O sonho é acalentado pelo próprio desenvolvimento do ser, é realização, é AMOR.
Nós Bruxas (o) estamos cada vez mais retomando a nossa CONSCIÊNCIA PRIMORDIAL do nosso poder de decisão de fazer deste Planeta um lugar feliz para se viver, buscamos viver e deixamos que os outros vivam da melhor forma que lhes aprouver.
Assim, buscamos a cada dia desenvolver a alegria que podemos sentir com a real simplicidade de viver. A cada objeto, a cada compra, antes de consumar, se pergunte; -Eu realmente estou precisando disso? Em caso de dúvida desista imediatamente. Isso significa serenidade e lucidez. Ame a sua paz e a sua plenitude, deixe que seus sonhos lhe guiem em direção a uma vida mais rica e mais prazerosa.
Olhem a palavra que estou usando: Vida Rica!
Sim, podemos e devemos ser ricas (o).Não só em sabedoria,em espiritualidade, em amor, em saúde, em amigos, Mas também nas coisas materiais: casa, carro, jóias, viagens, etc. Só que tudo isso dentro da verdadeira consciência do que é SER e do que é TER.

Graça Azevedo / Senhora Telucama
Suma Sacerdotisa do Templo Casa Telucama 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

UMA MIRÍADE DE PERPECTIVAS

Quando um rótulo não faz o conteúdo
Nas comunidades pagãs do exterior existe um mal estar causado pelas declarações de Zsuzsanna Budapest. A discussão é evitada no exterior e aqui no Brasil impera uma supremacia das religiões da Deusa sobre a comunidade pagã que torna meu trabalho impossível.

Jason Mankey tentou apontar para o elefante na sala, mas com muita delicadeza, no texto “When Wicca is not Wicca”.

Segundo Jason: “No seu início a Wicca era apenas uma tradição iniciática; para se tornar um wiccano tem que ser iniciada por outro wiccano. Isso começou a mudar na década de 1970 e pelo início de 1990 a Wicca havia se tornado algo que era facilmente acessado”.

Para entender esse processo eu recomendo a leitura do texto “A Origem Americana da Neo-Wicca”. Aqui no Brasil a Wicca veio americanizada e nos faltam meios, recursos e fontes para conhecer a Wicca Tradicional. Felizmente eu encontrei o texto de Janluis Duarte, “Reinventando Tradições Representações e Identidades da Bruxaria Neopagã no Brasil”.

De certa forma eu entendo quem quer evitar ou silenciar os fatos, as evidências, as controvérsias e as polêmicas. Há a impressão que se nos dispusermos a discutir esses assuntos em público irá acarretar em uma diminuição do interesse popular. Eu vejo algo desse processo no Cristianismo, que tem se travestido de outra coisa, como Cristianismo Progressista, para manter a audiência. Mas para o autor deste blog e para o interesse do dileto e eventual leitor, eu tenho que afirmar aquilo que se quer evitar dizer: Diânico não é Wicca.

Para embasar tal afirmação, eu tenho que recorrer à Teoria dos Grupos. Primeiro nós temos o Paganismo como um grupo geral. O Paganismo se subdivide em Paleo, Meso e Neo. O Neopaganismo, ou Paganismo Moderno, se subdivide em Reconstrucionistas, Aborígenes e Religiões de Bruxaria. As Religiões de Bruxaria se subdivide em Bruxaria Tradicional, Wicca, Feri, Diânico e Eclético. Eu agrupei e separei esses sistemas por um motivo: não é por que algo recebeu o rótulo de Wicca que será Wicca. Estão aí a “Wicca Cristã” e outras viagens esquisotéricas, como Eddie Van Feu, que mostram bem o caso.

Há anos eu afirmo: Wicca é uma religião e, como tal, tem características, princípios e valores. Tem vertentes do Cristianismo que, para resguardar a audiência, abre mão de diversas características, princípios e valores próprios do Cristianismo. Estão distorcendo a um ponto que mal dá para se reconhecer a religião como aquilo que a define.

Em muitos textos neste blog eu dou pistas de quais são as características, os princípios e os valores da Wicca Tradicional, mas eu não apontei quais, como e por que, as características, princípios e valores das vertentes diânicas, o torna uma forma diferente de Religião de Bruxaria, de Paganismo Moderno, mas não Wicca.

Ausência de linhagem – as fundadoras das vertentes diânicas não tem linhagem, seja em relação a alguma forma de Bruxaria Tradicional, seja em relação aos fundadores da Wicca Tradicional.

Ausência do Deus – a característica em comum nas vertentes diânicas é uma ausência ou diminuição do Deus. O excessivo enfoque na Deusa denota uma forma de Monoteísmo invertido, quando não uma forma equivocada de Monismo.

Ausência do sagrado masculino – esta é outra característica comum das vertentes diânicas, nega-se aos homens seu lado divino e sagrado, uma forma de misandria, uma inversão da misoginia das religiões monoteístas.

Ausência de ortopraxia – as vertentes diânicas divulgam práticas e rituais de outras tendências místicas, ocultas e esotéricas que tem pouca ou nenhuma relação com a Wicca.

Mistura de Panteões – as vertentes diânicas não demonstram o menor respeito aos mitos, mistérios e sacerdócio de outros panteões, promovendo uma mistura desaconselhável.

Adoção de regionalismo – as vertentes diânicas tornam a Wicca uma religião regional, adotando práticas, panteões, mistérios e mitos regionais.

Mistura de sistemas – as vertentes diânicas realizam tanto o giro pelo norte quanto o giro pelo sul no mesmo espaço. Isso causa confusão na correlação dos rituais com as estações do ano e os sabats.

Roberto Quintas

SER OU NÃO SER WICCANO EIS A QUESTÃO:

Enfim, poderia não dizer nada sobre o texto porque sei que posso gerar uma discussão totalmente desnecessária...
Mas a primeira coisa que afirmo é que nem todas as mulheres que se voltam para o Sagrado Feminino se consideram diânicas...Mesmo eu a tempos atrás aceitava o rótulo facilmente mas recentemente tenho me apercebido mais como uma grande simpatizante do Diânismo do que uma bruxa diânica em si, até porque como até recentemente tinha dito, o Deus faz parte das minhas práticas pessoais.

Quanto o Wicca, já a muito tempo se vem sentindo aqui no Brasil e lá fora, que não é necessário se considerar wiccano para fazer parte do paganismo ou da bruxaria em si. 
Acho que a discussão é desnecessário porque gira em torno de nomenclaturas e tenta encaixar o Feminino em algo que ele não é.... Um padrão solido, cheio de regras como nas igrejas.
Em nenhum momento, eu li ou vi quaisquer bruxas diânicas recusando a existência do Deus, nem mesmo 
Zsuzsanna Budapest... Quanto a nomenclatura, a própria Zsuzsanna Budapest, afirmou a utilizar muito mais num sentido genérico do que religioso em si, ele vê o termo como o mesmo que bruxaria...E não podem negar a validade de seu movimento, nem a importância que o dianismo tem para as pessoas mundo a fora.
E SE O CULTO FOCADO A DEUSA É O MAIS POPULAR NO NEO-PAGANISMO É PORQUE CLARO E EVIDENTE, AS PESSOAS SE SENTEM MAIS INCLINADAS A ELE.

Para mim o culto ao Deus faz parte de um desenvolvimento natural na trajetória de uma bruxa e comigo ele se deu de forma totalmente natural...
Acho que os homens dentro da bruxaria deveriam se sentir mais tranquilos e saberem que nós, mulheres da Deusa, não negamos o fato do Divino Masculino existir... Mas nos voltamos naturalmente para a Grande Mãe, o que não é em si, de forma alguma uma negação do homem, mas tão somente UMA AFIRMAÇÃO DA MULHER, PORQUE SIM ELA TEM ESSE DIREITO. E é claro, aqueles que buscarem pelo Deus e sentirem necessidade de uma prática focada nele, encontraram isso naturalmente. Geralmente sempre existem em grupos e círculos de bruxaria, práticas para homens e encontros mensais do Sagrado Masculino.
Enfim não concordo em absoluto nem mesmo com 
Zsuzsanna Budapest, mas acho sua busca e seu foco extremamente válidos.
Eis tudo, sem polemicas ou citações desnecessárias. Quanto ao uso de várias mitologias dentro de um mesmo culto isso se deve naturalmente ao fato de que as bruxas diânicas verem todas as Deusas como uma mesma Deusa, o que ironicamente é uma idéia wiccana, e ao fato de usarem vários de seus mitos para elucidar sobre o Feminino e a Mulher.

A DEUSA VIVE EM NÓS

Eu tomo os opostos
e os conflitos
tudo o que é contraditório
Eu pego o diferente
e o variado
Eu pego o simples
e o solitário
e misturo e fundo
derreto e ligo
Eu tomo o que está separado
e crio união
Eu junto
o que precisa ser unido
assim a totalidade é alcançada 

O Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marashimsky

Revela-se na mulher a natureza do Eterno Feminino, que transcende todas as suas encarnações terrenas – cada mulher e cada símbolo individual. A emergência do arquétipo da Feminilidade em todas as culturas, em todas as épocas e entre todos os homens, desde a pré-história, constitui também a realidade da mulher moderna, seus sonhos e visões, suas fantasias e impulsos, suas projecções e relações, suas fixações e mutações.
A Grande Deusa encarna o Ser Feminino, que se manifesta ...tanto na história do género humano quanto em cada mulher individual; a sua realidade determina a vida individual e colectiva. Esse universo psíquico arquetípico está contido no poder subjacente que, ainda hoje – em parte com os mesmos símbolos e na mesma ordem de desenvolvimento, em parte com modalidades e variações dinâmicas -, determina a história psíquica do homem e da mulher actuais”. 

in A GRANDE MÃE de Erich Neumann
Publicado por Rosa Leonor em MULHERES E DEUSAS