"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A SINTONIA COM A MÃE


" (...) A sintonia com a Vida e com a Terra, vista como Mãe, é algo que nós neo-pagãos bem entendemos. Este é o valor mais ausente desta cultura utilitarista e consumista que se instalou no mundo: Não conseguem sentir a Vida pulsando em tudo à nossa volta, perderam o elo com a Mãe Terra, ser vivo e dinâmico, com o qual podemos criar uma relação que nos permite um grau de completude, de plenitude existencial e energética inominável.

Um dos riscos que vejo na Wicca hoje é uma adoção de um culto formal à Deusa, fazendo aquilo que tantos chamam de criar um "jeová" de saias. Sem a consciência ecológica não há ligação com a Deusa. Sem a mudança dos paradigmas fundamentais nos quais fomos criados, que não são ecológicos, não levam a uma relação direta com a divindade sem intermediários e sentindo faces da divindade em cada aspecto da existência. Sem esses pontos-base não há paganismo. Sem perceber a Deusa na natureza e na vida como um todo não há paganismo efetivo. É minha opinião que os cultos a uma "personalização" da Deusa pouca relação tem com "sentir" e "celebrar" a Deusa, que sempre foi sentir e celebrar a própria vida em seus ciclos. Uma pessoa que se diz pagã e não possuí aguda, clara e intensa consciência ecológica é alguém diletante, alguém que apenas repete formas prontas, sem entender a essência. Pois como estar em um movimento que busca ser uno com a vida sem ter essa consciência ecológica plenamente desenvolvida? Este me parece o primeiro ponto.

Segundo ponto a debater é a questão de sentir a Deusa. A percepção da Deusa sem faces, da Deusa enquanto origem e fonte sempre foi um conhecimento iniciático. Pelo que pesquisei nenhum culto "popular" tinha essa concepção. Sempre neste nível mais "exotérico" o culto era a uma das faces da divindade, da Deusa. O conceito da Fonte sem Fonte, da Deusa sem face sempre esteve associado aos trabalhos já dentro dos chamados mistérios. Estes dois níveis da religiosidade antiga nunca podem ser esquecidas quando falamos sobre os cultos ancestrais, os cultos abertos ao público e portanto os únicos que deixaram registros possíveis de serem estudados pelos historiadores tinham um outro aspecto, secreto, oculto, transmitido apenas de boca para ouvido e que sobrevive até os dias de hoje dentro destas mesmas premissas, pois me parece uma das grandes ilusões contemporâneas crer que o secreto e o sagrado estão revelados. Aliás podem até estar, já que etimologicamente revelar é velar de novo. RE-velar. Mas nunca o sagrado, o segredo, os mistérios serão revelados neste sentido que dão ao termo, pois não é o mistério que pode ser aberto à compreensão limitada de quem apenas foi condicionado pela sociedade, mas somos nós que temos que nos desenvolver, sutilizar e ampliar nossa percepção para mergulhar na vastidão onde reside o secreto e o sagrado. Como a cor só se revela a alguém quando este alguém abre os olhos, não há como falar sobre cores a quem insiste em manter os olhos fechados.

O esoterismo contemporâneo, ou, melhor dizendo, o que se convencionou chamar de esoterismo hoje, é um conjunto de idéias que remete ao transcendente, mas ir ao transcendente é algo para ser feito com plenitude, jamais apenas como conceito intelectual. Da mesma forma, o paganismo é algo que hoje precisa ser recuperado. Não está em nós, criados como civilizados, de forma "natural". Por isso gosto do termo “neopagão”, fica claro que somos pessoas com toda uma influência cultural urbana, que pouco a pouco lutam para recuperar uma abordagem mais plena e realista da vida, que inclui o perceber da Vida em sua plenitude e da natureza como ser vivo e do qual fazemos parte. Por isso, lendo esta carta do chefe Seattle a gente volta a notar como são distintos e distantes os paradigmas da cultura que fomos criados e destes povos nativos." (...)
Nuvem que Passa
in http://pistasdocaminho.blogspot.com/

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