"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

APENAS PARA CONFIRMAÇÃO DE AUTORIA, Eu Helena Felix Clementino Neta assumo a autoria desta página. Muito do que aqui é compartilhado vem de outras fontes que pesquiso, por isso deixo aqui meu email, caso existam quaisquer tipo de questões a serem esclarecidas ou apontamentos. Está página é redigida por uma mulher transexual, eu mesma e assumo a responsabilidade e procuro corrigir qualquer erro que dê margem a possíveis desrespeitos a todas as mulheres em geral e ao culto a Deusa.

Gaia Lil é meu nome pagão e todos os poemas com sua assinatura são autoria minha.

gaia.lil@live.com

sábado, 2 de fevereiro de 2019

SANTUÁRIO DE OSÚN (OXUM) NO CONTINENTE AFRICANO

Templo de Osún em Oxogbo, Estado Osún na Nigéria
Templo de Osún

Ọṣun-Oṣogbo ou Bosque Sagrado de Osun-Osogbo é uma floresta sagrada às margens do rio Osun que se encontra na cidade de Osogbo, no estado de Osun, Nigéria.
Templo de Osun como é conhecido pelos brasileiros que prestam culto a Oxum (Osun) no Candomblé, uma das religiões afro-brasileiras.
Porta de entrada no Templo de Osún
Descrição

A floresta densa do Bosque Sagrado de Osun-Osogbo, nos arredores da cidade de Osogbo, é uma das últimas áreas remanescentes de floresta primária no sul da Nigéria. É considerada a casa de Osun, uma das divindades do panteão yoruba.

 A floresta, o sinuoso rio Osún, santuários domésticos, esculturas e obras de arte erguidas em honra de Osun orixá da fertilidade e outras divindades. A floresta sagrada, agora vista pelos yorubas como um símbolo da identidade, é provavelmente o último bosque sagrado na cultura yoruba. Ela reflete o costume, uma vez difundido, que foi estabelecer lugares sagrados longe de habitações humanas.
Anualmente na cidade de Osogbo é realizada uma festa conhecida mundialmente pelo nome "Osun-Osogbo Sacred Grove Festival" Festival de Osún onde são realizadas oferendas e presentes à Osun, no rio Osun com a participação de moradores e visitantes.
Osún esculpida em madeira (Bosque sagrado do Templo de Osún)

A popularidade do festival aumentou significativamente nos últimos 30 anos, sobretudo devido à dedicação da artista Susanne Wenger, que reconstruiu os santuários e trabalhou para obter o bosque protegido.
Um livro sobre o trabalho da artista austríaca Susanne Wenger (Graz, Áustria 1915-Osogbo, 2009), "The return of the Gods, The Sacred Art of Susanne Wenger" (O retorno dos Deuses, A Sagrada Arte de Susanne Wenger) por Ulli Beier, Londres, Cambrigde, 1975. Esse trabalho foi feito no Bosque Sagrado de Osun-Osogbo durante os muitos anos que viveu na África envolvida com a religião yorubá.

Especialistas em religiões tradicionais africanas da Nigéria dizem que o Osun-Osogbo Sacred Grove Festival de 600 anos está ameaçado.

Parte interna do Templo de Osún com imagens esculpidas de
divindades do Yorubá
Valor universal excepcional

Breve síntese

Um século atrás havia muitos bosques sagrados nas terras Yoruba: cada cidade tinha um. A maioria destes bosques agora foram abandonadas ou encolheram bastante para pequenas áreas. Templo de Osun, no coração de Osogbo, a capital do Estado de Osun, fundada há 400 anos, no sudoeste da Nigéria, a uma distância de 250 km de Lagos é o maior bosque sagrado para ter sobrevivido e que ainda é reverenciado.
A densa floresta de Osun, o Bosque Sagrado é alguns dos últimos remanescentes de floresta primária alto no sul da Nigéria. Através da floresta meandros do rio Osun, a morada espiritual da Deusa do rio Osun. Situado dentro da área sagrada da floresta são quarenta santuários, esculturas e obras de arte erigidos em honra de Osun e outras divindades iorubás, muitos criados nos últimos quarenta anos, dois palácios, cinco lugares sagrados e nove pontos de adoração amarradas ao longo das margens do rio com sacerdotes designados e sacerdotisas.
A nova arte instalado no bosque também diferenciou de outros bosques: Osogbo é agora o único a ter uma grande componente da escultura do século 20 criada para reforçar os laços entre as pessoas e o panteão ioruba, e a maneira em que cidades Yoruba ligadas seu estabelecimento e crescimento para os espíritos da floresta.
 

Muro de imagens à Osún

A restauração do bosque por artistas tem dado o bosque de uma nova importância: tornou-se um lugar sagrado para o conjunto da Yoruba/Terras e um símbolo de identidade para o mais amplo Yoruba-Diáspora.
A floresta é um local religioso ativo, onde diariamente, culto semanal e mensal ocorre. Além disso, um festival anual processional para restabelecer os laços místicos entre a Deusa e as pessoas da cidade ocorre todos os anos e mais de doze dias em julho e agosto e, portanto, sustenta as tradições culturais de vida do povo Yoruba.
A floresta é também uma farmácia de ervas naturais que contém mais de 400 espécies de plantas, algumas endêmicas, das quais mais de 200 espécies são conhecidos por seus usos medicinais.
Critério (ii): O desenvolvimento do Movimento das Novas Sagradas Artes e a absorção de Suzanne Wenger, uma artista austríaca, na comunidade iorubá provaram ser uma troca de idéias fértil que reavivou o Sagrado Bosque de Osun .
Critério (iii): O  Bosque Sagrado de Osun é o maior e talvez o exemplo único remanescente de um fenômeno generalizado, uma vez que é utilizado para caracterizar cada assentamento Yoruba. Ele agora representa os Yoruba-bosques sagrados e sua reflexão de Yoruba cosmologia.

Critério (vi): O Bosque Sagrado de  Osun  é uma expressão tangível do Yoruba divinatório e sistemas cosmológicos; a sua festa anual é uma resposta viva e próspera evoluindo para crenças iorubás no vínculo entre as pessoas, e sua governante a Deusa Osun.

Integridade

A propriedade abrange quase a totalidade do bosque sagrado e, certamente, tudo o que foi restaurado ao longo dos quarenta anos antes da inscrição. Alguns dos recentes esculturas são vulneráveis ​​à falta de manutenção regular que dado os seus materiais - cimento, ferro e barro - poderia levar a problemas de conservação potencialmente difíceis e caros.

O bosque, também é vulnerável ao excesso de visitar e visitante pressão que poderia corroer o equilíbrio entre os aspectos naturais e as pessoas necessárias para sustentar as qualidades espirituais do sítio.
Autenticidade



Orixá Osún esculpida às margens do rio Osún

A autenticidade do bosque está relacionada com o seu valor como um lugar sagrado. A natureza sagrada de lugares só podem ser continuamente reforçado se essa santidade é amplamente respeitado. Nos últimos quarenta anos, as novas esculturas no bosque tiveram o efeito de reforçar as qualidades especiais do bosque e dando-lhe de volta as suas qualidades espirituais que imbuir-lo com um elevado valor cultural.
Ao mesmo tempo, as novas esculturas são parte de uma tradição longa e continuada de esculturas criadas para refletir Yoruba cosmologia. Embora sua forma reflete uma nova partida estilística, as obras não foram criados para glorificar os artistas, mas sim através de seu tamanho gigante e intimidadora formas de restabelecer a sacralidade do bosque. As novas esculturas atingiram o seu objectivo e o bosque tem agora mais largo do que um significado local como um lugar sagrado para o povo iorubá.

Requisitos de protecção e de gestão

O bosque foi declarado primeiro Monumento Nacional em 1965. Esta designação original foi alterado e ampliado em 1992 para proteger toda a 75 hectares. A Política Cultural da Nigéria de 1988 refere que «o Estado deve preservar como monumentos antigos muralhas e portões, locais, palácios, templos, edifícios públicos, promover edifícios de importância histórica e esculturas monumentais". Sob o Uso do Solo Act de 1990 o Governo Federal da Nigéria conferida tutela do bosque para o Governo do Estado de Osun.

Imagens esculpidas dentro do Bosque Sagrado

O Bosque tinha um plano de gestão bem desenvolvida que cobre o período 2004 - 2009, que foi adoptado por todas as partes interessadas e a aréa goza de um sistema de gestão participativa. O Governo Federal administra a área através de um administrador local da Comissão Nacional de Museus e Monumento como habilitada pelo Decreto 77 de 1979 Osun Governo do Estado contribui igualmente para a sua protecção e gestão através de seus respectivos governos locais, ministérios e paraestatais, que também estão habilitadas pelos decretos estaduais para gerir monumentos estaduais.
Responsabilidades tradicionais da comunidade e ritos culturais são exercidas através da Ataojá (Rei) e seu Conselho - o Conselho do Patrimônio Cultural Osogbo. Há atividades tradicionais que têm sido usados ​​para proteger o local de qualquer forma de ameaças, como as leis tradicionais, mitos, tabus e costumes que proíbem as pessoas de pesca, a caça, a caça ilegal, abate de árvores e agricultura.

Os adoradores tradicionais e devotos manter o património imaterial através de espiritismo, adoração e simbolismo. Existe um comité de gestão composto por todos os quadros das partes interessadas, que implementa as políticas, ações e atividades para o desenvolvimento sustentável da área.

Atual Ataojá (Rei) de Osogbo

Templo de Osun Bosque Sagrado, também faz parte do Plano Mestre Nacional de Desenvolvimento do Turismo, que foi criado com Organização Mundial de Turismo (OMT) e Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). O festival anual de Osun Osogbo terá de ser melhor gerido para que a área não mais sofra os impactos negativos do turismo durante o festival.
O Bosque também servirá como um modelo de herança Africano que preserva os valores tangíveis e intangíveis das pessoas Osogbo em particular, e do povo Yoruba inteiras. Como uma fonte de orgulho para eles, o Grove continuará a ser um património vivo próspera que tem pontos de referência tradicionais e um verdadeiro meio de transferência da religião tradicional e sistemas de conhecimento indígenas, aos povos africanos na diáspora.

Imagem esculpida em madeira dentro do bosque sagrado em reverência á Osún

Fontes:
Unesco - Bosque sagrado de Osún em Osogbo
Wikipédia - Templo de Osún
 TODOS OS CRÉDITOS DE PESQUISA E PUBLICAÇÃO: Alaketú Odé - http://alaketuode2.blogspot.com/2015/11/templo-de-osun-em-oxogbo-osun-state.html

terça-feira, 23 de maio de 2017

A SACERDOTISA QUE HÁ EM NÓS

Vestir uma Sacerdotisa ou noiva, Afresco escavado na palaestra dos Banhos, Fórum de Herculano.

“Uma sacerdotisa é uma mulher que oficia rituais. Uma sacerdotisa oficia ritos sagrados e serve as necessidades espirituais da comunidade.”

Esta é uma definição de sacerdotisa. Pode parecer demasiado resumida ou mesmo incompleta, por não contemplar uma dimensão interior de quem é, ou pelo menos sente ser, no mais íntimo de si, uma sacerdotisa. A objectividade não permite interpretações ambíguas, deixando claro que ter uma função sacerdotal requer uma acção e não apenas o reconhecimento de uma vocação ou a experiência do arquétipo da Sacerdotisa. O mesmo é válido para qualquer outro ofício. Com a necessidade de desempenhar tarefas surge a possibilidade de errar. Na sociedade que não perdoa o erro é muito comum encontrarmos pessoas que se sentem sacerdotisas mas que não são, por puro medo de errar.
Devido à erosão da autoconfiança feminina, durante milénios, e à certeza de serem alvos preferenciais do patriarcado, ainda vigente, muitas potenciais sacerdotisas escolhem não manifestar a sua natureza. A consciência da responsabilidade, associada a vários obstáculos externos, que historicamente têm sido impostos às mulheres, remete muitas vocações para o plano dos desejos, dos chamamentos a que poucas atendem. A maioria não saberia que passos dar no sentido da concretização e as que arriscam tentar podem ser confrontadas com competitividade feroz por parte de outras mulheres, que operam com base no ego. Este é o resultado mais evidente de séculos de medo, opressão e violência, que provocaram fragmentação e resultaram no isolamento e na desconfiança entre as mulheres. A maioria acabou por confiar mais nos seus opressores e detractores do que em si mesma e entregou-lhes a sua autoridade espiritual e os seus filhos.
Outro aspecto que inibe muitas pessoas, sem diferença de sexo e género, é o aparente conflito entre as funções de orientação moral e espiritual e as posições de poder. As mulheres, em particular, desde a Antiguidade foram destituídas das suas funções de mediadoras espirituais no seio das suas comunidades. Ficaram impedidas de ascenderem nas hierarquias religiosas imperantes, acabando restringidas aos cultos domésticos ou estritamente femininos, que exigiam votos de castidade. No presente, muitas mulheres acreditam que só é possível ascenderem a determinados graus sacerdotais por via das instituições religiosas cristãs ou em alguns sítios de Poder – por vezes, nebulosos –, onde a união em torno do Sagrado Feminino permite a realização regular e descomplexada de rituais públicos de várias tradições.
A ideia de sacerdotisa aproxima-se muitas vezes da ideia de fada ou de personagens de romances protagonizados por mulheres feéricas, poderosas, ou implacáveis, que terão existido num local entre mundos, velado, restrito, ou simplesmente metafórico, mas com tremendo impacto no mundo exterior e nos fados dos outros mortais. Por outro lado, verifica-se uma vulgarização do uso de títulos sacerdotais dissociados das respectivas funções, sem que as auto-intituladas e até as ordenadas se revelem figuras sacerdotais, de facto. As sacerdotisas, como os gurus, tornaram-se meros clichés. Em muitos contextos é repetido que todas somos sacerdotisas, e que todos somos professores, mas a verdade é que não somos.
Existem requisitos indispensáveis para alguém poder exercer bem determinadas funções, forças de expressão à parte. Não basta acordar a sentir-se sacerdotisa, recordar alegadas vidas passadas em que terá sido sacerdotisa, acumular estudos universitários e iniciações, nem cumprir um percurso que culmina numa ordenação formal, que confere credibilidade, reconhecimento público, e poder. Esses são apenas estágios em processos longos que não oferecem quaisquer garantias de sucesso. Não basta experimentar o manto sacerdotal, para ver como lhe fica – e quanto pode render-lhe –, pensando que é possível mergulhar apenas o dedinho do pé no glamoroso lago das sacerdotisas, sem correr o risco de cair à água, ou ao pântano, antes de saber nadar ou pelo menos manter-se à tona.
As verdadeiras “Mulheres da Liberdade”, “Senhoras da Magia”, “Sacerdotisas do Poder” sabem que as suas funções não se coadunam com sentimentos de superioridade, em relação aos machos ou às outras fêmeas de qualquer espécie, muito menos à ostentação de títulos, graus, ou ordenações. Elas sabem que nem sequer se trata de ter a intenção, ou a pretensão, de dinamizar eventos, entreter audiências, ou ensinar alguém. Elas também sabem que o essencial é serem responsáveis pelas suas acções, aconteça o que acontecer, no exercício das suas funções. Note-se a ênfase na componente prática.
Quem não quiser, não for requisitada, ou não estiver preparada para oficiar cerimónias, de acordo com a sua tradição religiosa ou de modo assumidamente improvisado, pode participar de círculos de partilha, escrever textos acerca deste e de outros assuntos, ou simplesmente tecer um espaço no qual o sagrado possa manifestar-se. Afinal, há muito trabalho que deve ser feito em silêncio, sem depender do rufar dos tambores, da dança extática, e dos rituais públicos.
O maior desafio de qualquer pessoa que se dirige a uma figura sacerdotal, com o intuito de aprender os preceitos de uma tradição ou de recorrer ao auxílio de um mediador que facilite a sua conexão com a dimensão divina, de um modo geral, é assumir a sua responsabilidade no que advém dessa escolha e da forma como usa as informações que lhe são transmitidas. Os maiores desafios para um mediador, que pode ser ou não ser um mentor moral para alguém, tanto é o de zelar pela sua tradição como o de não reter informações que tem o dever de transmitir, na tentativa de forjar um estatuto que não possui, gerando uma aura de superioridade e mistério.
Não menos importante em qualquer mentor é a capacidade de reconhecer quando certa pessoa se revela inepta para o percurso a que se propôs e quando precisa de ser redireccionada para outro percurso ou para outro mentor. O que não falta são pessoas dispostas a manterem outras na sua sombra, apenas para alimentarem o seu ego e obterem dividendos. Estas situações podem tomar contornos criminais e justificar o recurso a medidas que assegurem a integridade física e anímica de quem procura indivíduos que se revelam impostores ou, na melhor das hipóteses, que estão pouco conscientes do mal que a sua falta de preparação pode provocar a pessoas imaturas, crédulas, intimidadas, ou desesperadas.
O que pode surpreender é que o oposto aconteça com mais frequência. É cada vez mais real a necessidade de proteger figuras sacerdotais independentes, mediadores psíquicos, mentores de minorias religiosas, e todas as pessoas honestas que prestem serviços oraculares, facilitem meditações orientadas, curas energéticas, rituais públicos, ou cursos introdutórios a inúmeras disciplinas do âmbito do Oculto, ainda que de forma gratuita. Estes profissionais estão particularmente expostos a juízos de valor, acusações de burla, difamação e injúria, por parte de concorrentes gananciosos e, sobretudo, de clientes e discípulos insatisfeitos. Muitos preferem descredibilizar e arrasar a reputação de alguém, em vez de assumirem que as suas escolhas foram feitas de livre e espontânea vontade.
Acontece que o requisito essencial para alguém realizar funções sacerdotais é exactamente a qualidade que falta a grande parte das pessoas que procuram serviços ou mentores que os orientem na sua vida pessoal ou no caminho para o almejado sucesso, no inescrupuloso mercado das espiritualidades e mais além. A principal causa para a existência de uma cultura da desresponsabilização, face às consequências de escolhas pessoais, pode bem ser o desrespeito pela autoridade espiritual de cada um, que começa em tenra idade. As consagrações às diversas divindades e religiões, durante a infância, é um abuso que carece reconhecimento público e jurídico.
Existe uma diferença crucial entre introduzir uma criança às práticas religiosas, tradições familiares, usos e costumes da sua e de outras sociedades, e em definir um percurso religioso ou não-religioso que lhe é imposto como uma doutrina. Desde a infância, a maioria ou é ensinada a desconsiderar por completo qualquer prática religiosa ou, ao contrário, a não questionar, a atender com assiduidade, e até a assumir papéis em ritos religiosos inibidores, realizados por adultos estranhos ao seu círculo afectivo, que não têm qualquer formação específica para interagirem com crianças, durante o desempenho das suas funções sacerdotais. Crescem vulneráveis a situações que propiciam o abuso da sua autoridade espiritual e abdicam dela, sem que cheguem sequer a ter plena consciência da sua existência e do papel que ela pode ter na protecção contra abusos de outra ordem, ao longo de toda a vida.
Sem uma prática pessoal sólida, que promova o autoconhecimento, a preservação da integridade espiritual, a liberdade religiosa de cada indivíduo, e o serviço ponderado a favor de uma comunidade, não é possível assumir funções sacerdotais. Quando alguém assume posturas degradantes, quer face a outras figuras sacerdotais, quer em relação a uma ou mais divindades, aceita ser subjugado, e atribui a outrem a responsabilidade pelas consequências dos seus actos, não pode exercer aquelas funções. Estamos perante uma pessoa desequilibrada, capaz de ferir a si e aos outros, com base numa convicção, em nome de interesses pessoais, de um suposto poder supremo ou força irresistível, perante a qual é servil. Infelizmente, ainda é comum encontrar quem pense que qualquer filosofia que ensine as pessoas a pensarem por si é perigosa para o próprio indivíduo, ameaça as hierarquias e aqueles que temem as suas sombras.

Reclamando a sacerdotisa
4 DE MARÇO DE 2016 IN DIVINA MENS

terça-feira, 12 de julho de 2016

UMA BRUXA...INESPERADA...

RELATO DE UMA BRUXA…QUÉ É TRANSEXUAL

publicado primeiramente em Matricaria Ecologia Feminina

Nasci, segundo me contaram, numa contraditória tempestade de primavera, daquelas rápidas e superficiais. Penso que já comecei como uma pequena contradição, efeito que foi se estendendo em tudo o que fazia…

Não sou boa em textos técnicos porque sempre ao falar o que penso nunca me expresso dessa forma técnica, não sou especialista, e sim uma apaixonada pela Deusa.

A forma como cheguei até Ela foi interessante, lembro me de ter procurado minha mãe louca para saber o significado da palavra oráculo, e assim em meio a outras coisas cheguei até a expressão Grande Mãe…Lembro me de ter ficado muito impactada, nessa altura eu tinha 14 anos, de ter visto o termo. Imediatamente veio na minha mente a imagem de um lindo olhar feminino sobre o céu e uma grande extensão da terra. Tive a nítida sensação de conhecer a Grande Mãe embora, a esta altura, de nada soubesse. Foi mais ou menos aí que comecei minha busca pela Deusa e que até hoje prossegue. Foi também uma época de paixão e êxtase pra mim, porque eu que nasci biologicamente num corpo masculino, havia achado algo que significava minha feminilidade que desde cedo era parte de mim.

Sempre fui diferente até entre os “diferentes”. Nunca me vi como gay e ao me deparar com a Deusa e os perfis dos caminhos femininos pude então entender porque estava tão transtornada. Compreendi, então, o desejo de infância de ser e uma mulher e que havia trancado dentro do meu ser por anos. Sem que nada me fosse dito senti que a Deusa chamava por mim de modo doce e mesmo de modo obscuro também. Pra mim, no meu caso específico, eu via o Feminino de uma mulher que é transexual como uma força transgressora e nas Deusas Negras (algumas como a Medusa apresentadas com traços andróginos ou Cibele que foi retratada como um ser tão perigoso que teve de ser castrado) um arquétipo de força, independência e auto suficiência emocional. Não apenas em Deusas Negras e também em representantes da Soberania (Hera, Juno, Ísis entre outras), em que eu buscava e encontrava forças.


Antes de o patriarcado dividir o mundo em lados, claro e obscuro, homem e mulher, tudo fazia parte do corpo cósmico e telúrico da Grande Deusa. Passou muito tempo até aceitar certos aspectos de mim e da minha personalidade, porque eu era diferente e creio que seria assim mesmo se fosse uma mulher cis. Por isso mesmo não sei se posso falar em nome de todas as mulheres que são transexuais. Inclusive porque sempre vi um certo mal jeito de como o termo é utilizado mesmo entre mulheres que são transexuais. Porque faz politica e psicologicamente uma diferença incrível entre se descrever como uma transexual, uma mulher transexual e uma mulher que é transexual. No primeiro caso o termo traz um incrível confusão porque pode se tratar de qualquer gênero de pessoa, e tem sutilmente uma certa dose de preconceito. Ao nos referimos a uma mulher como mulher transexual estamos ressaltando que ela não é uma mulher comum, e que a transexualidade não é uma característica física secundaria, como seria no caso de uma mulher cadeirante (que não é uma cadeirante nem uma mulher cadeirante de fato, porque enquanto mulher isso não a define. Conheça uma mulher assim e você até esquecerá das cadeiras de rodas) e estamos alertando que ela é diferente e definida segundo seu corpo físico. Será que esse é um tratamento justo a uma mulher? Será que não é uma forma sutil de dizer que ela não é uma mulher comum e assim sendo deverá receber um tratamento diferente?

Nenhuma mulher que é transexual faz alterações na sua vida (relações, corpo físico, emprego e por aí vai…) apenas para se tornar uma “mulher transexual”, “uma anomalia a ser tratada com grande desconfiança”… Assim como a transexualidade não pode definir o caráter, nem ser uma forma de se dirigir a uma mulher especificamente. Eu, como mulher, encaro o fato de ser uma mulher que é transexual ( uma mulher que nasceu num corpo masculino) com muita naturalidade, tal como encararia ser asiática ou portadora de alguma limitação física, porque a grosso modo, e aos níveis que realmente interessam a mim e a Grande Deusa, eu sou uma mulher que busca sua plenitude. Buscando porque pra mim plenitude completa é ter a integridade de se reconhecer uma eterna peregrina no caminho da Grande Deusa. Lembro que durante muitos anos, a página a A Alta Sacerdotisa foi um ensaio do tipo de mulher que deveria ser e que queria me tornar. Hoje em dia sinto que estou mais próxima disso, tendo meu Coven onde tenho, com muito amor e orgulho, atuado como sacerdotisa entre pessoas que me reconhecem como tal e tendo iniciado meu caminho dentro da Bruxaria em cursos pagos no Rio de Janeiro, eu saí da internet zona de conforto e fui pro mundo.

Minha transição tem sido lenta e calma assim como deve ser. Mas não é fácil lidar mesmo com o meio pagão e não perceber um certo preconceito. Havia já ouvido que a energia física de uma pessoa é o que a definia e que qualquer loucura como “transexuais” é coisa da mente humana. Assim sendo pessoas que nasceram biologicamente em corpos masculinos são solares e pessoas nascidas em femininos são necessariamente lunares. Acredito que para algumas pessoas o conceito generalizado pode ser útil, mas nada, nem mesmo na natureza, é definitivo.

Antes de o patriarcado dividir o mundo em lados, claro e obscuro, homem e mulher, tudo fazia parte do corpo cósmico e telúrico da Grande Deusa. Sendo assim, esse e muitos outros conceitos nascidos no ocultismo da Idade Média são mais válidos a quem tem como guia as formas de espiritualidade baseados na magia ceremonial. O que não é o meu caso, como mulher e como bruxa, sou enérgica e vital como a Terra, que por vezes foi vista como fêmea e outras como macho. Pra mim a feminilidade da mulher que é transexual é ligada ao mundo secreto da Lua Interior, o mundo da lua e do inconsciente. Não o fluir do sangue da vida, que muito singelo e belo entre a maioria das mulheres, mas no lado oculto da Lua. No seu lado secreto. Uma mulher que é transexual tem a feminilidade mais improvável em seu peito. Assim como a Lua Negra ela é secreta e seus frutos só podem ser colhidos por aqueles que vêem além do corpo físico e do lado brilhante da Senhora da Lua Cheia. Uma mulher que é transexual tem que ouvir a voz da sua própria alma, sua Lua Interior. Uma mulher que é transexual tem que ouvir os segredos de seu coração e da sua alma no mais absoluto silêncio. O mais absoluto silêncio, exige uma aceitação da escuridão, pois só passando por ela, como a Deusa Hécate ou o Eremita do Tarot, podemos chegar a compreensão.

Texto Colaboração:

Gaia Lil nasceu 19 de setembro de 1993, tendo desde os 14 anos, buscado informações referentes a Deusa, ao sagrado feminino e a mulher. Em 2008 criou a página “A Alta Sacerdotisa” (hoje Sagrado Feminino) aonde partilhava suas pesquisas e informações sobre a mulher e o feminino em vários níveis. Pouco depois se assumiu para seus leitores transexual e recebendo algum apoio continuou sua página com poesias, arquétipos e mitos referentes ao Feminino Profundo. Atualmente é uma pesquisadora de bruxaria natural, trabalha com tradições ítalo romanas de reconstrucionismo e Stregoneria num coven aonde atua como sacerdotisa. Estuda bruxaria e vive com a família. Devota de Hécate, Diana e Juno.


Blog da Gaia Lil: http://sagrado-feminino.blogspot.com.br/

domingo, 22 de maio de 2016

A DEUSA MÃE DAS BRUXAS BASCAS


Deusa basca Mari

Está por cima de todos os demais numes, a que assume.
Estes últimos, atuam sob as suas ordens ou ao seu serviço ou são diferentes formas dela se encarnar e manifestar.
Pode apresentar-se como uma senhora elegantemente vestida, como senhora sobre um carro puxado por quatro cavalos que cruza o céu, como mulher envolta em chamas cruzando o espaço e estendida horizontalmente, como uma mulher grande com a cabeça rodeada pela lua cheia, ou em forma de bezerra, de corvo, como nuvem branca, como arco-íris, etc., etc.
Entre as suas atividades mais frequentes, podemos assinalar: fiar, pentear o seu cabelo comprido, desfiar, fazer novelos de ouro (remetendo tudo isso aos ciclos de vida, morte e regeneração), gerir tempestades.

Ela atende todos os que pedem o seu auxílio, dá conselhos e realiza oráculos.
Quem a visita para solicitar ajuda deve cumprir três formalidades:
tratá-la por tu,
sair da gruta da mesma forma que se entrou (isto é, sair recuando) e
não se sentar até que ela convide a fazê-lo.

Mari condena a mentira, o roubo, a vaidade, o descumprimento da assistência mútua. As pessoas são castigadas com a privação ou a perda do que foi objeto de mentira ou de usurpação.
É dito que Mari se abastece à conta dos que negam a verdade e dos que afirmam a mentira: “ezagaz eta baiagaz” (abastece-se com a negação e com a afirmação mentirosa).


Mari, a Grande Deusa Bruxa, Senhora das Tempestades e Soberana da Terra, que habita nas Coevas ( grutas subterrâneas ) das montanhas, junto das Lamiák.
Mari é representada pela Joaninha ( Marigorri: Mari a Vermelha ), e é venerada junto a seus dois maridos Divinos:
- Akerbeltz ( Bode Negro, em euskera ), Deus Chifrudo das Bruxas Bascas, Senhor da Vida e da Morte, Grande Mestre do Akelarre, que traz a Luz da Sabedoria ardendo entre os Seus Chifres;
- Sugaar, ou Sugoi ( também chamado Maju ), Deus Serpente com quem Mari se une sexualmente nos Céus, para produzir tempestades; e Herensuge, Deus Serpente de várias cabeças, muito invocado como benfeitor dos seres humanos.

Mari também é chamada de Anbotoko Sorgiña ( a Bruxa do Monte Anboto ), Basko Marie ( Mari do Bosque ), entre outras denominações, e é tida como a Senhora das riquezas da Terra.
Ela recebia oferendas de carneiros ou moedas para a obtenção de graças ou para proteção contra as tempestades, já que era a Senhora das Tormentas.
É a Rainha de todos os Espíritos, e possui duas filhas ( em alguns locais, são considerados filhos ): Mikelats e Atarrabi.


Na mitologia basca, Mari é a deusa associada com bruxas, que entre os bascos sao conhecidas como as caminhantes noturnas. 
As bruxas no imaginário popular se encontram à noite em algum lugar misterioso, vão de encontro em vôos ao sabath para se juntarem com o Diabo, copular com o mesmo, apresentarem os novos bruxos... 
Mari era conhecida como Dama ou Senhora e seria também uma outra deidade primária das bruxas. 
Chegando a ser conhecida e ligada à Holda do folclore germânico. 
Ela é a deusa principal na mitologia basca. 
Seu consorte era um deus serpente ou dragão que vivia na lua. 
A representacao de Mari a demonstra como uma mulher jovem e muito bela, voando com uma bola de fogo conjurando tempestades. 


8 DE MAIO

Comemoração de Mari, a deusa basca regente da chuva e da seca.
Ela também punia todos os culpados de roubo, mentira e violência.
Às vezes, aparecia como uma mulher madura, atravessando o céu em uma carruagem puxada por cavalos pretos.
Mari morava em um lindo palácio nas nuvens, que ela substituía a cada sete anos.
Podia aparecer, também, como uma árvore em chamas, uma nuvem branca, o arco-íris ou uma velha morando em cavernas, que se metamorfoseava em aves de rapina.
Na mitologia hindu também existe Mari, deusa que personifica a morte, senhora da chuva, da seca e das doenças contagiosas.

copiado de www.teiadethea.org
Postado por Mirhyam Conde Canto IN; MUNDOS DA MI

terça-feira, 20 de outubro de 2015

DESAMPARO

A SAGA DA MÃE SOLTEIRA

Historinha triste, porém muito comum...

Papai e Mamãe fizeram um Bebê.
Papai e Mamãe ficaram desempregados.
Papai e Mamãe se separam porque não se gostam mais.
Mamãe fica com o Bebê, que ainda é muito pequenino e depende dos seus cuidados.
Papai vai embora e dá notícias quando tem tempo.
Mamãe pergunta quando o Papai vem visitar e ele diz que não quer voltar porque está muito confuso. Mamãe explica que não quer que ele volte, apenas precisa que ele ajude com o Bebê. Precisam ver como vão fazer com as contas da casa que ficaram pra ela resolver, com a Creche/Babá para o Bebê, e como vão levar aquela situação - como ele vai poder ajudar.
Papai diz que não quer voltar pra ela, que ele está muito confuso. 
Papai pede para Mamãe parar de incomodar.
Mamãe se cansa de tentar explicar que não quer ele de volta, apenas quer ajuda com o Bebê que eles fizeram juntos.
Mamãe está sem dinheiro mas acha que o Papai também.
Papai vai viajar.
Papai sai com os amigos.
Papai não manda dinheiro.
As contas começam a vencer e o nome da Mamãe começa a sujar.
Mamãe começa a procurar um emprego.
Mamãe deixa o Bebê com uma Babá porque ele ainda não pode entrar na Creche.
As Conhecidas de Mamãe dizem que ela é louca por deixar o Bebê com alguém que ela mal conhece - mas o Familiares da Mamãe também trabalham.
As Conhecidas não querem cuidar do Bebê, mas dizem que ela é louca.
A Mamãe começa a frequentar entrevistas:
"Ah, você tem filho?" 
"Ah, você é Mãe Solteira?"
"Ah, ele só tem X meses/anos"
"Com quem ele fica?"
"Tem outra pessoa para ir buscá-lo em uma emergência"
"Que horas ele entra/sai da Creche/Babá?"
"Como você vai fazer para levá-lo/buscá-lo?"
"Quem vai ficar com ele nos finais de semana/feriados?"
"Ah, você ainda está amamentando?"
A Mamãe achava que em 2015 não existia mais preconceito. Mamãe começa a perceber que nenhum preconceito existe - até você ser alvo dele.
Finalmente uma chefe que também é Mamãe Solteira, se solidariza e contrata a Mamãe.
O Bebê já está com idade pra ir para Creche mas não tem vaga na pública.
Mamãe consegue dinheiro emprestado para pagar uma Creche particular que deu um descontinho para cuidar do Bebê.
Mamãe começa a trabalhar 8h por dia.
Nos finais de semana o Bebê fica com os Avós para a Mamãe poder trabalhar.
As conhecidas da Mamãe, dizem que ela é uma péssima mãe pois está terceirizando a educação do Bebê.
Quando chega em casa, a Mamãe cuida do Bebê, da casa, das roupas, das contas, da comida.
Mamãe monta a lancheira do Bebê, vai no supermercado, compra remédio - porque agora o Bebê começou a ficar doente por causa do primeiro ano da Creche - ele ainda está construindo sua imunidade.
O Papai aparece de vez em quando, diz que não tem dinheiro, que ainda não arrumou emprego porque está muito difícil pra ele. Mas diz que ama muito o Bebê e que está sofrendo muito com essa situação.
Mamãe acorda a noite inteira. Nunca dorme e quando dorme acorda a cada 40 minutos.
São os dentinhos do Bebê. 
Mamãe mesmo assim trabalha 8h por dia e "terceiriza" a educação do Bebê.
Mesmo assim tem que pegar dinheiro emprestado. Mamãe chega a pensar em se prostituir, para dar conta de tudo.
Mamãe não pode se prostituir porque se não ela perde a guarda do Bebê.
A Mamãe começa a faltar do trabalho primeiro porque o Bebê pegou conjuntivite e depois porque pegou todas as viroses disponíveis no mercado.
Os Familiares da Mamãe trabalham então ela falta do trabalho para cuidar do Bebê.
Mamãe sempre entrega todos os atestados, mas mesmo assim a Mamãe é mandada embora do trabalho.
Mamãe liga pra pedir dinheiro pro Papai e ele diz que não tem e que não adianta ela insistir que ele não quer voltar.
Mamãe diz que não quer que ele volte e explica que nesse momento ele precisa muito arrumar um emprego porque ela está na função do Bebê e por isso tem sido difícil manter o emprego.
Papai diz que não quer voltar.
Mamãe desiste - é muito cansativo ter que ficar explicando, pedindo, implorando pra que ele cumpra as obrigações dele com o Bebê.
Mamãe já tem as dela para cumprir e as dele - já que ele não as cumpre.
Mas Papai sempre visita.
Pega o Bebê limpinho, saudável, alimentado.
Pega a bolsa do Bebê com as fraldinhas dele, a mamadeira com o leitinho, roupinhas para troca e alguns brinquedinhos.
Leva a lancheirinha cheia e devolve vazia. A roupa limpa e devolve suja.
O Papai posta fotinhos da visita no Facebook e os conhecidos e familiares dele comentam "Que Paizão!!!".
O Papai não sabe nem a série que o Bebê está.
As Conhecidas da Mamãe acham que ela é vagabunda, que não trabalha porque ela se apoia na pensão que o Papai manda.
A família do Papai também acha que ela compra bolsas Chanel com aqueles 30% de salário mínimo que o Papai manda todo mês.
A pensão que o Papai manda é pouquinha porque a Justiça entende que ele está desempregado e não tem dinheiro para pagar os custos do Bebê.
A Mamãe também não pode arcar com os custos do Bebê, mas também não pode deixar um Bebê passar necessidade. Além do que, isso é crime.
Os Conhecidos da Mamãe dizem que ela devia ter pensado nisso antes de abrir as pernas.
A Mamãe come miojo, arroz puro, batata - não faz nunca mistura - pra sobrar mais dinheiro pro leitinho do Bebê.
O Papai assiste a TV e continua mandando currículos pela internet - está muito difícil conseguir um emprego.
Os Familiares do Papai dizem no Facebook que estão todos sofrendo muito porque a Mamãe não deixa eles verem o Bebê.
Eles nunca falaram com a Mamãe.
O Papai também diz que não vê mais o Bebê porque a Mamãe não deixa, mas de vez em quando falta das visitas e a Mamãe fica brava porque ele não avisou - ela e o Bebê ficaram esperando, conforme manda a Justiça.
Quando ela liga reclamando, o Papai diz pra namorada nova dele, que a Mamãe tem muito ciúmes e que não aceita o fato dele ter seguido com a vida dele e ela não.
A Mamãe sente pena das futuras namoradas dele. 
A Mamãe reclama do Papai pra Conhecidos porque está sobrecarregada, mas eles dizem que a culpa é dela, porque ela não escolheu alguém melhor para engravidar.
Mamãe tomava anticoncepcional quando engravidou. Os Conhecidos dizem que ela tomava errado porque anticoncepcionais nunca falham.
A Família do Papai acha que ela engravidou de propósito.
Mamãe não tem muitos amigos porque a maioria das mamães que conhece são casadas e preferem sair com outras mamães casadas.
Também não costuma sair porque não tem com quem deixar o Bebê. Quando tem, os Conhecidos dizem que ela é uma vadia que só pensa em correr atrás de homem ao invés de cuidar do Bebê.
Os Homens acham que a Mamãe está em busca de um novo Papai para o Bebê e sempre se afastam.
A Mamãe acha que um único Papai já é trabalho o suficiente na vida dela.
Um Amigo da Mamãe disse que prefere Mães Solteiras porque elas são alvos fáceis, estão sempre carentes.
Mamãe descobre que o Papai está ganhando dinheiro e pede para ele aumentar a Pensão.
Ele diz que não quer voltar.
Os Conhecidos chamam ela de aproveitadora.
O Papai se acha um grande pai porque assina a mini pensão e visita sempre que pode. Reclama quando a Mamãe pede alguma coisa - ele acha que já está fazendo demais.
Mal sabe o Papai que ele não cumpre com as suas obrigações.
Mas a Mamãe desencana porque já está calejada. 
Decide que vai mesmo assumir tudo sozinha daqui pra frente - trabalha, cuida do Bebê, da casa e não sai.
Depois de apanhar muito, de chorar por horas intermináveis sozinha no banheiro, Mamãe pegou o jeito da maternidade solo.
Papai diz que ela finalmente parou de correr atrás dele - até porque, ele não quer voltar.

*Essa é uma história fictícia, baseada nos inúmeros relatos de Mães Solteiras portanto, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

[Texto via Mãe no Divã]

domingo, 18 de outubro de 2015

O RESGATE DO MISTÉRIO FEMININO


A dimensão poética do feminino, que dá sentido à vida, não é exclusividade da mulher: ela faz parte da evolução de todo o ser humano.

O que falta ao nosso mundo é a conexão anímica. A afirmação, de Carl Gustav Jung, poderia ser complementada por outra, de Roger Garaudy: “Viver, antes de mais nada, é participar do fluxo e da pulsação orgânica do mundo”.

A conexão anímica citada por Jung e a qualidade de vida proposta por Garaudy estão estreitamente vinculadas ao que chamamos de feminino no ser humano: um potencial interno a ser trabalhado tanto no homem como na mulher, feito de valores hoje considerados supérfluos, superficiais, pouco úteis para a luta pela sobrevivência básica e por isso relegados a um segundo plano.
Entre esses valores estão a estética, a intuição, a poesia, o raciocínio e o pensamento não lineares, os sentimentos, a sincronicidade, os sonhos... Abrir-se para o feminino, portanto, é entrar em um mundo de mistério e encantamento — uma vivência poética que dá cor, entusiasmo e significado à vida.
De acordo com Erich Neumann, um dos seguidores de Jung, a civilização ocidental vive uma crise motivada pelo excesso de valorização do masculino, representado pelo arquétipo do Pai, que leva à inflação espiritual do ego.

O reequilíbrio pode ser obtido aproximando-nos do inconsciente, representado pelo feminino, não só através do arquétipo da Grande Mãe, mas de todas as qualidades simbólicas do feminino pertinentes aos vários ciclos evolutivos da consciência.
Outro grande perigo da atualidade citado por Neumann é a desvalorização das forças transpessoais. Tudo o que não pode ser compreendido e analisado pelo ego não é encarado com respeito, mas simplesmente reduzido, como algo sem importância ou ilusório. Anulado, reprimido ou ignorado, o mistério perde sua força. Assim, o universo perde seu caráter assustador, mas, sem o mistério sagrado que transcende o ego, a vida torna-se mecânica e sem sentido.
A vivência do feminino não torna menos árdua a luta pelos objetivos e metas propostas pelo mundo atual. Mas pode transformá-la em uma aventura corajosa e criativa, com surpresas agradáveis, mesmo através das dificuldades.
Pela sua própria condição biológica, a mulher está naturalmente mais próxima do feminino. Ao contrário do que se poderia pensar, essa proximidade às vezes dificulta o desenvolvimento desse potencial, porque o coloca muito próximo de um nível de atuação inconsciente. Tanto quanto o homem, a mulher deve se esforçar conscientemente para diferenciar e desenvolver os valores pertencentes ao feminino.

O potencial feminino passa por um desenvolvimento simbólico ao longo da vida. Para estudar melhor as possibilidades que se abrem em cada fase evolutiva, vamos nos reportar ao referencial que propõe o analista junguiano Carlos Byington: fase matriarcal, patriarcal, de alteridade e cósmica.

Fase 1 matriarcal — Aqui, o feminino encontra-se em seu próprio elemento, pois o arquétipo dominante é o da Grande Mãe. Devemos observar, porém, que além das valores conhecidos, pertinentes ao aspecto maternal do símbolo, há outras características do feminino igualmente importantes.

Neste estágio psíquico, a consciência não se encontra ainda completamente destacada do inconsciente; é permeada pelo seu fluxo, tornando-se difusa e periódica. Essa condição favorece muito a inspiração criativa, a intuição, qualidades que emergem de modo misterioso, não influenciáveis pela vontade do ego. Convém lembrar que o inconsciente é que é criativo, não o consciente. Portanto, maior abertura e proximidade do inconsciente favorecem a expressão criativa, em todos os níveis, seja ela artística, científica, ou uma busca de novas atitudes.
Outra qualidade do feminino à disposição de homens e mulheres é a consciência do tempo lunar, que enfatiza a qualidade, e não a quantidade de tempo. Com o desenvolvimento desse potencial, podemos abrir-nos para a apreciação do momento mais favorável à execução de determinadas ações ou objetivos. O tempo solar seria o pólo masculino, o que enfatiza a pontualidade e a exatidão da ordem cronológica temporal.

A compreensão relacionada com o feminino não se dá por um ato do intelecto. É
o coração, e não a cabeça a sede da consciência matriarcal. No entanto, como as percepções estão conectadas com o ego, não podem ser consideradas inconscientes. A compreensão acontece por uma abertura afetiva a um novo conteúdo que, assimilado pela totalidade da pessoa, provoca uma alteração global — e não apenas intelectual — da personalidade.

O feminino, com seu caráter restaurador (pois enfatiza a quietude, a tranquilidade, o mistério), está ligado às qualidades noturnas. A força regeneradora do inconsciente atua em segredo e permite que nos aproximemos dessa dimensão, às vezes assustadora, da escuridão, através da suavidade da feminino. Para desabrochar com segurança, o crescimento, a regeneração, a transformação, precisam das qualidades femininas do silêncio, da paciência, da receptividade.
Outra qualidade importante é a ação pela entrega, pelo “deixar acontecer”, a “ação pela não-ação” dos orientais, o aprendizado do acolhimento, não só na maternidade biológica, mas no carregar e deixar amadurecer uma nova cognição, uma nova atitude.

Para a mulher, o maior perigo nessa fase é justamente atuar o feminino apenas no plano externo, concreto, projetando-o na maternidade biológica. Quando isso acontece, o feminino não se desenvolve no plano interno, simbolicamente, e então ocorre urna grande perda para a personalidade, em termos existenciais.

Para o homem, o feminino será realizado, necessariamente, como evento psíquico e não físico. E ele também tem que se defrontar com um perigo intenso: a permanente desvalorização do feminino. Como a consciência deve se desligar do inconsciente e seguir para a fase patriarcal, tudo o que estiver ligado à fase matriarcal deverá ser momentaneamente desvalorizado para permitir o desligamento e a passagem à fase seguinte. No entanto, muitos homens (e mulheres também) permanecem fixados na desvalorização do feminino, encarando suas qualidades como algo negativo, a ser superado em definitivo, e não conseguem recuperar, em si mesmos, a força simbólica desse potencial.
Na fase matriarcal, o feminino desabrocha em sua plenitude para homens e mulheres e permanece durante toda a vida como fonte revitalizante de imensas possibilidades criativas e sensíveis, onde podemos nos nutrir para ampliar e enriquecer nossa essência humana.
Fase patriarcal — Nesta fase, a consciência destaca-se por completo do inconsciente para formar um ego forte, que dirige a libido de acordo com sua vontade rumo à organização e à discriminação. O arquétipo da Grande Mãe é substituído pelo arquétipo do Pai, a lua dá lugar ao sol e as novas conquistas são simbolizadas pelas façanhas do herói. O princípio masculino aqui está “em casa“, como estava o feminino na fase anterior. Com a modificação da consciência, o feminino também sofre transformações que ampliam o seu significado. O que não quer dizer, como frequentemente se supõe, que o feminino se transforme em masculino.

As qualidades do feminino (suavidade, intuição, aceitação, tempo lunar qualitativo) fortalecem-se nesta fase e tomam forma mais definida pelo seu exercício consciente e ativo, tanto no círculo familiar, mais íntimo, como no espaço mais amplo das várias relações afetivas e sociais. Conquistando novos espaços, essas qualidades serão fortalecidas e diferenciadas através da consciência patriarcal, que possibilita a formação de canais individuais mais assertivos de expressão.
À mulher, essa atuação consciente e decidida dos valores femininos proporciona uma auto-confiança fundamental na sua própria essência. Para o homem, passada a etapa de afirmação da sua identidade masculina, o encontro com o feminino representa a conquista da própria alma.
Na nossa cultura, a consciência patriarcal foi levada ao extremo. A aceleração do ritmo vital, a excessiva competitividade e agressividade prejudicaram a qualidade de vida em geral. Hoje, as pessoas têm muito mais conforto devido ao enorme avanço científico-tecnológico, mas já não possuem tantas possibilidades internas de desfrutar esse bem-estar, porque o feminino pouco desenvolvido tomou a vida sem significado existencial.

O objetivo de atingir status, estabilidade financeira, acesso aos bens materiais, simboliza, mais que simples conforto, o sucesso do ponto de vista patriarcal. A vivência e o desenvolvimento dos valores ligados ao potencial feminino são desvalorizados, e é necessária grande ousadia para buscá-los na atual sociedade. Os desafios não são poucos. Em primeiro lugar, temos que usar de toda a capacidade discriminativa da consciência patriarcal para delinear de maneira precisa os valores do feminino a serem resgatados, preservados e desenvolvidos. Em segundo lugar, temos que ampliar o exercício desses valores (suavidade, receptividade, compreensão lunar) do círculo familiar, amigos e pessoas próximas para a sociedade em geral, inserindo essa ação em nosso cotidiano. Isso requer a persistência e a tenacidade da consciência patriarcal, usadas a favor do feminino. Por último, temos que expressar o feminino sem que perca sua essência.

Tais tarefas requerem a força do herói, pois tentam recuperar o respeito, a dignidade, a civilidade no contato humano, hoje tão raros. O feminino tem a faculdade de estabelecer vínculos, relações, tanto externos como internos. Com a consciência patriarcal, passamos a nos diferenciar do outro, a ter uma visão do outro. O feminino faz a ponte, a conexão entre eu e outro, trazendo uma qualidade afetiva à relação. Vivida internamente, essa qualidade afetiva estabelece contacto com a vivência poética inerente a cada ser humano e abre as portas para outra visão de mundo que complementa e equilibra a anual — e dominante — consciência patriarcal.


O estabelecimento de uma vivência poética no quotidiano não pode ser deixado ao acaso. Essa vivência deve ser desejada, buscada e trabalhada criativamente. Portanto, o irromper dos valores femininos na fase matriarcal não é o bastante. Sua continuidade depende das qualidades positivas da consciência patriarcal, que favoreçam seu desenvolvimento.

Fase da alteridade — Se na fase anterior o feminino foi delineado e expresso com clareza, podemos ingressar na fase da alteridade. Os arquétipos regentes são a Anima e o Animus e o objetivo é o encontro e a aproximação das polaridades. O feminino amplia-se ao incluir seu oposto, o masculino, e vice-versa. Ambos são vividos como duas totalidades que se encontram e estabelecem o que Jung chamou de relacionamento “quatérnio”.

O feminino poderá expandir-se muito mais, valendo-se de seu poder criativo, para encontrar novas maneiras de expressão da consciência. Essa criatividade é absolutamente necessária à transformação dos valores patriarcais que se baseiam na consciência tradicional e conservadora do coletivo.

A luta pela afirmação do feminino já não é importante nesta fase. Assim, essa energia pode ser dirigida ao diálogo, à escuta, à reflexão que inclua o oposto. As qualidades do masculino serão vivenciadas como complementares e não mais como antagônicas. As projeções podem ser retiradas; o encontro do feminino com o masculino pode ser vivido internamente. Novas possibilidades desabrocham — por exemplo, a percepção de que a suavidade possui grande força intrínseca, de que o pensamento lunar, do coração, possui sua própria lógica, de que a capacidade de entrega é uma escolha ativa e não um mero abandonar-se passivo. Os valores do feminino, enfim, incluem os valores do potencial masculino naturalmente, do mesmo modo que no símbolo do Tao o lado escuro contendo um ponto claro e o lado claro contendo um ponto escuro estão em constante movimento e inter-relação.

Esse diálogo, essa dança entre as polaridades é a grande tarefa a ser cumprida pelo homem e pela mulher: o lado prático e o lado sensível expressando-se ao mesmo tempo, superando a dissociação interna.
Fase cósmica — É difícil falar com precisão desta fase, pois ainda estamos, enquanto humanidade em geral, na transição da fase patriarcal para a fase de alteridade, que apenas começamos a desenvolver. No entanto, ela não é uma completa desconhecida, pois temos a possibilidade de vivenciar momentos integrativos que nos dão um vislumbre bastante eficaz de suas possibilidades existenciais.

Aqui, o arquétipo regente é o self. Depois da integração obtida na fase anterior, o coletivo é a transcendência das polaridades, que nos leva à vivência da totalidade.

As qualidades do feminino que desabrocharam na fase matriarcal, discriminadas na fase patriarcal e complementadas pelo seu oposto e integradas na fase de alteridade, serão agora vivenciadas de modo espontâneo na sua totalidade, desapegadas dos papéis sociais polarizados que ajudaram no seu desenvolvimento. Por exemplo: mãe-pai, filho-filha, marido-esposa. Pois agora o centro da consciência não é mais o ego e sim o self, que é o centro da psique unificada.
Na fase de alteridade, a forma convencional e coletiva de personalidade é descartada para que a individualidade desabroche. Isto feito, abre-se a porta para a vivência do aspecto transpessoal, onde não mais existe a divisão feminino-masculino e se torna possível a vivência real dos seres humanos em sua totalidade. Como consequência, a visão de mundo também é radicalmente transformada.

As qualidades da feminino serão agora vividas em uma esfera superior, porque foram consciencializadas e transformadas ao longo de todo o processo de desenvolvimento. Elas unem-se agora no que podemos considerar uma nova síntese de sabedoria, expressa através de serenidade, lucidez e harmonia. O Self pode expressar-s

e de modo mais feminino ou mais masculino, apenas no que diz respeito à ênfase no modo de expressão, pois o todo está sempre presente indiviso. Como exemplo, podemos lembrar Lao Tsé, que transmitiu sua sabedoria de modo feminino ao usar a linguagem poética em seus escritos.

Assim, o feminino pode se revelar nesta fase como um valor espiritual vivenciado internamente e não mais projetado no mundo. O inconsciente urobórico do início torna-se sagrado, numinoso e, através do longo processo de desenvolvimento, leva-nos ao si-mesmo.

Vera Lúcia Paes de Almeida

Texto publicado na Revista THOT nº 58.

Encontrado em:O FEMININO RESGATADO

A ESPIRITUALIDADE DA DEUSA E EU

A Espiritualidade da Deusa serve ao meu ver, justamente para a individualização da mulher, para que ela mesma possa através dessa conexão profunda com seu ser interior, com a Deusa, com sua sabedoria natural, guiar e determinar sua vida, ter uma noção de auto-imagem.
 Na minha opinião aquilo que buscamos não é se tornar um espirito transcendente nem atender ou ascender a uma dimensão espiritual e sim viver o Espirito diariamente. Faz se isso por meio da devoção e principalmente da introspeção, da auto-observação e dos estímulos a auto-estima. A questão em si é muito mais profunda que isto...
Tem a ver com quem somos e de onde realmente viemos, da Terra, do Cosmos, do Todo, e a Deusa é isso tudo ao mesmo tempo.
É um mergulho profundo no abrangente feminino, e a compreensão que a verdadeira empatia só é conquistada quando realmente nos vemos, pois nos somos o outro e o outro bem ali, também é parte de nós.
 É por isso que uma vez que se começa esse caminho, que se trilha essa senda, na qual enfrentaremos nosso medo, nossa Sombra diversas vezes e uma vez provada de sua água, uma vez bebida de sua fonte, torna se impossível negar ou desprezar essa verdade, que pra mim sempre será o maior de todos os mistérios; Somos parte da Deusa, a Deusa é parte de nós e ter consciência disso é maior dádiva e vitoria que se pode conceber, todos os atos de amor, prazer e devoção e principalmente a  arte são formas de oferenda, que deitamos nos só a Grande Deusa no Todo, mas também e principalmente a Grande Deusa dentro de nós.
 Não é preciso muito, uma vela, um copo com água, talvez incensos e flores (os detalhes são dispensáveis) e uma leitura gratificante já são obstante para começar a caminhada.
Continuar é o que é difícil, é como andar no dorso de uma serpente imensa...Momentos vão e vem e não sabemos se estamos mais subindo ou descendo, se estamos mais próximas da cauda ou da cabeça...Contudo o minimo de comprometimento é necessário; o auto comprometimento, com  a sua cura e a sua descoberta, a calma para aceitar as adversidades e o bom humor...
Um dia olhamos para atrás( pode ser até o dia anterior) e achamos graça de todos os medos,receios e necessidades fúteis que tínhamos em relação a nós mesmas. Temos medo, óbvio, pois essa é jornada da Vida e não temos tantos moldes para nós guiar...Nossas antepassadas a muito se foram e apesar de haver um rico material de pesquisa, nossa busca não pode se basear num livro da lei...Seria até contra producente e me pergunto se de certa forma, essa improvisação não seja exatamente o que a Deusa, deseja e espera de nós.
Olhemos para todos os lados e até mesmo para uma das formas do culto a Deusa:
No momento, mesmo dentro de nossa terra (eu aqui do Brasil) e ainda que com boas intenções, temos um homem que se julga ou posta como representante das Bruxas no Brasil.
Nada contra ele nem contra os homens dentro da bruxaria e embora isso fuja um pouco ao tema da página, que era falar apenas do SAGRADO FEMININO, acho interessante ver como em todas as áreas de protagonismo, a mulher é sempre eclipsada de uma forma ou de outra pelo homem.

A pergunta agora é o porque disso?
 Talvez estejamos vivendo um novo momento aonde seja novamente necessário que as mulheres demonstrem sim, sua visibilidade e sua ação dentro do MOVIMENTO DA DEUSA.
Talvez eu esteja enormemente enganada e seja tudo impressão minha.
Só o tempo dirá.
Curioso e que do nada sinto ter que voltar, que minha volta se faz necessária, principalmente pra mim...Começou c
om as poesias mas agora penso que prosseguirei com as minhas pesquisas e com os textos e fontes aqui publicados.

 De certa forma até tenha algum material a partilhar, mas me sentia desanimada, e vendo tantas mulheres brilhantes, me perguntava se era realmente necessário continuar a participar da divulgação e do registrar do tema, da Deusa e do Sagrado Feminino e devido a minha situação de vida ser bem particular, se realmente tinha algo a acrescentar.
PERCEBO, que volto muito mais por mim mesma, do que por qualquer outro motivo. Escrever e ler me engajar e publicar são formas de me manter conectada a mim mesma e a Deusa em mim, aquilo que acredito, muito mais funcionais do que preces e devoções religiosas, devido ao momento da minha vida que não permite muito tempo para mim (trabalhar e estudar ao mesmo tempo).
Realmente a primeira mudança começa pela mudança de pensamento.
Espero ter algo a partilhar ainda e fazer algo pela Deusa e por mim mesma.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

HOJE ESTOU EM LUXÚRIA


 Hoje estou em luxúria
Mas não a tola luxúria dos homens
Que veem na beleza um produto
Ou um alivio a suas necessidades.

Minha luxúria não é da pela mas da alma


Que queima e eclode em pétala
Liberando o doce perfume ocre
Um coração pulsante de vida

Porque ser bruxa é saber que tudo
Já está lá para você, para o verdadeiro
E mais intimo você
Ela esta lá na dor e no amor

Na chuva, na rosa, na cerejeira
Nas vielas da rua e até nos dutos do esgoto
Ela está lá por debaixo acima e em tudo isso
Não se trata de adora-La ou temeLla
Se trata de devocão
Que é amar como uma forma de oração...
Lúxuria ou seria a mais intensa paixão...


terça-feira, 6 de outubro de 2015

SERÁ QUE UM DIA SEREI POETISA?

Meu coração está mais escuro do que noite
Meu coração sem música canta a mesma melodia sempre
Da mata ferida que se rasga no meu peito
Eu, que tanto esqueço de quem eu realmente Soul.

Eu canto como numa lenda
Sou uma moça presa numa cabaça
iluminada pelo lua e pelo sol
E meu canto, talvez belo, talvez horrível
Me comprime por dentro.

Eu quero romper a concha em que vivo
E cantar pra fora, fluir de dentro
A perguntas não respondidas
Vivo pelas respostas

segunda-feira, 28 de setembro de 2015


OS HOMENS, MALTRATARAM A NATUREZA MÃE 
DA MESMA MANEIRA QUE MALTRATARAM A MULHER...

“Os ciclos da natureza são os ciclos da mulher. A feminidade biológica é uma sequência de retornos circulares, que começa e acaba no mesmo ponto. A centralidade da mulher confere-lhe uma identidade estável. Ela não tem que tornar-se, basta-lhe ser. A sua centralidade é um grande obstáculo para o homem, cuja busca de identidade é bloqueada pela mulher. Ele tem que se transformar num ser independente, isto é, libertar-se da mulher. Se o não fizer acabará simplesmente por cair em direcção a ela. A união com a mãe é o canto da sereia que assombra constantemente a nossa imaginação. Onde existiu inicialmente felicidade agora existe uma luta. As recordações da vida anterior à traumática separação do nascimento podem estar na origem das fantasias arcádicas acerca de uma idade de ouro perdida. A ideia ocidental da história como movimento propulsor em direcção ao futuro, um desígnio progressivo ou providencial que atinge o seu apogeu na revelação de um Segundo Advento, é uma formulação masculina. Não creio que alguma mulher pudesse ter concebido tal ideia, já que a mesma é uma estratégia de evasão em relação à própria natureza cíclica da mulher, na qual o homem teme ser aprisionado. A história evolutiva ou apocalíptica é uma espécie de lista de desejos masculinos que desemboca num final feliz, num fálico cume”*
*Camille Paglia

Rosa Leonor Pedro IN: FACEBOOK

DOCEMENTE...

No meu fogo e no meu anseio eu não danço no seu tempo...
E sim no meu próprio
Na minha força e no rabisco de minhas palavras
Apenas minha voz dissonante poderá ser ouvida
Não como uma honrada exceção
Mas como uma coração-mulher-selvagem vibrando de vida
Como rosa ocre que arde no peito, aberta como ferida
Mas não ferida ainda, apenas um broto
Se espalhando pela relva de minha carne viva
Eu sou vida, inescrutável profunda imanente
Eu sou silêncio queda e abismo
Eu sou o encontro de quando se cai pra baixo

Não para baixo, mas para o centro
O eu de mim...